Declaração do diretor de Política Monetária do BC foi durante entrevista coletiva do relatório de inflação do quarto trimestre deste ano, em Brasília. Gabriel Galípolo, futuro presidente do Banco Central, não vê ‘ataque especulativo’ contra o real
O futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, que assume o comando do Banco Central a partir de janeiro de 2025, avaliou nesta quinta-feira (19) que o termo “ataque especulativo” não representa bem como o movimento está acontecendo no mercado atualmente.
Ele participou de entrevista coletiva do relatório de inflação do quarto trimestre deste ano, em Brasília.
“Não é correto tentar tratar o mercado como um bloco monolítico, uma coisa só, coordenada. Mercado funciona geralmente com posições contrárias, tem alguém comprando e alguém vendendo. Quando o preço de ativo [como o dólar] se mobiliza em uma direção, têm vencedores e perdedores. Ataque especulativo não representa bem como o movimento está acontecendo no mercado hoje”, declarou Galípolo.
Questionado nesta quarta-feira (18) sobre um possível ataque especulativo contra o real, com a disparada do dólar, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não descartou essa possibilidade.
“Há contatos conosco falando em especulação, inclusive jornalistas respeitáveis falando disso. Eu prefiro trabalhar com os fundamentos, mostrando a consistência do que nós estamos fazendo em proveito do arcabouço fiscal para estabilizar isso. Mas pode estar havendo [ataque especulativo]. Não estou querendo fazer juízo sobre isso porque a Fazenda trabalha com os fundamentos. E esses movimentos mais especulativos, eles são coibidos com a intervenção do tesouro e Banco Central”, declarou Haddad na ocasião.
O Banco Central efetuou, nos últimos dias, intervenções no câmbio, por meio da venda de moeda norte-americana no mercado à vista e, também, dos chamados leilões de linha (venda com compromisso de recompra, como se fosse um empréstimo).
🔎Somente nesta quinta, foram vendidos US$ 8 bilhões no mercado à vista.
Mesmo assim, o dólar tem operado pressionado, enquanto analistas aguardam o andamento do pacote de cortes de gastos no Congresso Nacional.
Nesta quinta, após bater recorde de R$ 6,30 por volta das 10h10, o dólar passou a operar em queda.
‘Saída extraordinária de recursos’
Na mesma ocasião, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reafirmou que o câmbio é flutuante no Brasil, ou seja, que a cotação da moeda norte-americana sobe e desce de acordo com as operações no mercado, mas avaliou que houve uma saída extraordinária de recursos do país neste fim de ano.
Por isso, explicou que instituição resolveu intervir com leilões de venda de dólares, como forma de contrabalançar essa saída “atípica” de divisas do país. Segundo ele, o BC não mudou sua forma de atuar no câmbio, ou seja, continua sem meta para o dólar.
Campos Neto aproveitou para dar um recado ao mercado financeiro: disse que o Banco Central “tem muita reserva [internacional, acima de US$ 370 bilhões] e vai atuar [no câmbio] se for necessário”.
“Entendemos que começou a ter uma saída maior, atípica, no fim do ano. A parte de dividendos [remessas de empresas ao exterior], você consegue ver que está acima da média. Mas o lucro foi maior também, o que aumenta o fluxo”, disse Campos Neto.
Segundo ele, além das tradicionais retiradas de recursos por empresas do país, que se intensificam no fim de cada ano, também está sendo registrado, e monitorado pelo BC, uma saída maior de recursos pelas pessoas físicas, por meio de plataformas de bancos.
Campos Neto
Reprodução/GloboNews
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