
Reforma proposta pela prefeitura quer enxugar a máquina pública, retirando a Funbosque e deixando escola sob gestão da Semec. Professores dizem que medida vai afetar projetos em comunidades ribeirinhas. Já prefeitura diz que pretende ‘fortalecer a educação ambiental’. Espaço da Escola Bosque, em Belém.
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Os vereadores de Belém foram convocados para sessão extraordinária na Câmara Municipal na tarde desta terça-feira (28) para votar reforma administrativa proposta pelo prefeito Igor Normando (MDB) a fim de enxugar a máquina pública.
No projeto de Igor, sob apreciação dos vereadores, está a extinção da Fundação Escola Bosque (Funbosque) – um complexo de educação ambiental com sete unidades de ensino e que atende dois mil alunos na região das ilhas na capital paraense. No total, são 329 servidores atuando na fundação atualmente.
A prefeitura, caso o projeto seja aprovado pela Câmara, quer retirar a autonomia administrativa e financeira da Funbosque, passando a Escola Bosque para a gestão da Secretaria Municipal de Educação (Semec).
Segundo a prefeitura, “a mudança vai melhorar a eficiência administrativa, permitir a economia de R$ 5 milhões em pessoal — revertidos em benefícios pedagógicos e estruturais diretamente na Escola Bosque -, e possibilitar mais garantias de direitos e investimentos para professores e servidores”.
Além da extinção da Funbosque, em toda a reforma, a previsão é de economizar, por ano, R$ 35 milhões, segundo a prefeitura, com a criação de novas secretarias e corte de 600 cargos comissionados, reduzindo de 2.800 para 2.200, incluindo o próprio gabinete do prefeito.
No entanto, a categoria de professores e servidores da Funbosque diz que a medida vai afetar os projetos de educação ambiental desenvolvidos com as comunidades ribeirinhas, como:
monitores ambientais,
hortas,
meliponário (criação de abelhas sem ferrão),
constituição de mudas,
reaproveitamento de óleo despejado nos rios
e projetos de manutenção de doze hectares de floresta em pé.
Projeto ‘Horta do Conhecimento’ da Fundação Escola Bosque, em Belém.
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Com a redução de gastos, a prefeitura informou que pretende fortalecer o projeto e construir uma creche para crianças de 0 a 3 anos na ilha de Outeiro, onde fica a sede da Escola Bosque.
A proposta foi enviada no dia 22 de janeiro e está sendo votada uma semana depois.
‘Educação não é gasto, é investimento’, diz professora
A pedagoga da Funbosque, professora Roberta Pantoja afirmou, ao g1, que “nem o prefeito, nem a maioria dos vereadores foi até a Escola Bosque para saber a realidade” e defendeu que fossem realizadas audiências públicas para definir o futuro da Fundação. Atualmente, a Funbosque atua com orçamento de R$58 milhões.
“A prefeitura não pode dizer que está cortando gastos. Ela tem que fazer investimentos para essa população ribeirinha tão carente que já sofre com o racismo ambiental. Nós somos uma instituição com envergadura, nossos alunos publicam em revistas científicas. São projetos de cunho ambiental, reconhecidos até internacionalmente, e que estão ameaçados de acabar”.
No ano em que a capital paraense vai receber o maior evento de discussão sobre mudanças climáticas do mundo, a COP 30, a professora avalia que a Funbosque poderia ser exemplo a ser mostrado pela prefeitura aos visitantes globais.
“A prefeitura de Belém poderia apresentar a Fundação na COP 30, mas, ao invés de valorizar o projeto que já é produzido por essa comunidade, ele quer o extinguir”.
“Aí se vê a importância dada para a questão da educação ambiental. Não é só plantar uma árvore. A educação ambiental é a valorização de quem constitui o território, sua história e sua cultura. Você se entendendo enquanto Amazônia, respeitando a Amazônia e protegendo essa Amazônia. Quando se quebra esse ciclo de conhecimento, se prejudica diretamente essas comunidades”, ela afirma.
Projeto da Fundação Escola Bosque, em Belém.
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