Mesmo com números que indicam isolamento, Frederico e Verilson vivem relação de afeto e cumplicidade, mostrando que é possível construir amor na terceira idade. Pesquisas indicam que idosos LGBTQIAPN+ preferem a solidão a relacionamentos
Mais da metade dos homens gays com mais de 45 anos vivem sozinhos, segundo pesquisa da Associação Americana de Pessoas Aposentada (AARP). Embora os dados indiquem que a solidão ainda atinge grande parte dessa população na terceira idade, a história de Frederico Gondim, conhecido como Fred, de 75 anos, engenheiro aposentado da Bahia, e Verilson Duarte, o Nino, de 56 anos, professor na Paraíba, segue um caminho diferente.
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Eles se conheceram por acaso, em um grupo de aplicativo de mensagens criado por amigos em comum. Depois de um mês conversando, decidiram se encontrar pessoalmente durante o aniversário de um colega, em Recife. “Foi um desafio, porque relacionamento à distância requer muita coisa, paciência, tempo”, disse Nino.
‘Está valendo a pena cada momento e cada minuto’
Casal na terceira idade desafia a solidão
Reprodução / TV Cabo Branco
O que começou com uma viagem virou uma história de encontros semanais entre Salvador e João Pessoa — até que a convivência se tornou inevitável.
Durante quase cinco anos, a cada semana um dos dois viajava até a cidade do outro, alternando entre os dois lares. Os amigos se aproximaram, os mundos se misturaram e, com o tempo, Fred se mudou para João Pessoa.
“Adequar as duas culturas e a forma de relacionamento foi um processo muito bom. Foi extremamente forte para nós. Isso que deu, e está dando até agora, a base do nosso relacionamento”, contou.
O casal Fred e Nino vivem juntos, dividindo a rotina
Reprodução / TV Cabo Branco
Hoje, eles dividem a casa, cuidam de um cachorro, recebem amigos e aproveitam os momentos simples, como assistir televisão lado a lado.
“Ele é o meu primeiro relacionamento e está sendo muito desafiador. Estou gostando de viver essa nova fase. Estamos aqui e está valendo a pena cada momento e cada minuto”, disse Nino.
3 em cada 4 pessoas LGBT+ temem envelhecer sem apoio
Embora existam histórias como a de Fred e Nino, a solidão ainda é realidade para muitos. Ainda de acordo com a pesquisa da AARP, 46% dos homens gays nessa faixa etária moram sozinhos. Entre as mulheres lésbicas, 39% são solteiras e 36% vivem sozinhas.
Três em cada quatro pessoas LGBTQIAPN+ com mais de 45 anos temem envelhecer sem apoio familiar ou de amigos. Também há receio quanto ao acolhimento em instituições de longa permanência e à falta de serviços específicos para idosos da comunidade.
Apesar disso, no Brasil, dados do Censo 2022 mostram que o número de casamentos entre pessoas com mais de 60 anos cresceu 23,5% desde 2018, com mais de 74 mil uniões registradas em 2022. Os casamentos homoafetivos também atingiram um recorde desde 2013, com mais de 11 mil registros em 2023.
Para a psicóloga Aline Manchado, viver afetos na velhice é essencial para a saúde emocional. “Poder viver esses afetos sem medo de que ele traga uma violência por si só é algo de extrema importância. Promove essa saúde, não só para o casal, mas também para toda a sociedade que garante a vivência do seu afeto e da sua sexualidade de maneira plena e saudável”, explica.
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