Encontro tratou de possíveis medidas de enfrentamento ao assassinato de mulheres em decorrência do gênero e também ao chamado estelionato emocional, abuso psicológico e outras consequências. Reunião utilizou como base a repercussão do caso da jovem Joycilene Sousa de Araújo, que morreu em 2024. Audiência discutiu feminicídio e violências contra mulheres com base na morte da jovem Joyce, em novembro de 2024
Arquivo pessoal, Junior Andrade e Arte g1
Uma audiência pública discutiu a alarmante situação dos feminicídios no Acre reunindo parlamentares e autoridades na Assembleia Legislativa do Acre (Aleac) na manhã desta segunda-feira (16) em Rio Branco. A reunião utilizou como base a repercussão do caso da jovem Joycilene Sousa de Araújo. O g1 conversou com exclusividade, em dezembro do ano passado, com os familiares e o suspeito, Thiago Augusto Sampaio Borges.
📲 Participe do canal do g1 AC no WhatsApp
O encontro, convocado pela deputada estadual Michelle Melo (PDT), tratou de possíveis medidas de enfrentamento ao assassinato de mulheres em decorrência do gênero e também ao chamado estelionato emocional, abuso psicológico e outras consequências.
👉 Contexto: A família de Joyce, como era conhecida, acusa o namorado dela, Thiago Augusto Sampaio Borges, de indução ao suicídio, violência psicológica e patrimonial, estimada em R$ 200 mil. A acreana morreu no dia 17 de novembro, no Instituto de Traumatologia e Ortopedia do Acre (Into-AC), em decorrência de uma parada cardíaca causada pela ingestão de comprimidos de uso controlado, uma semana antes.
“Levanta-se, vendo o caso, muitos problemas de políticas públicas que nós temos no nosso estado. A começar pela violência contra a mulher, que já está virando praxe. Todas as semanas nós vemos mulheres morrendo com feminicídio, sofrendo violência doméstica, mas também sofrendo esse estelionato financeiro, emocional, que culmina no adoecimento da saúde mental dessas mulheres”, declarou a deputada.
CASO JOYCE:
Polícia investiga namorado por morte de mulher no Acre; família acusa homem de violência patrimonial e psicológica
Caso Joyce: Namorado investigado por morte de mulher no AC apresentou identidade falsa ao ser abordado pela polícia
Durante a audiência pública, Jaqueline relembrou que o caso da irmã não entrou para as estatísticas de feminicídio, o que é questionado pela família, devido às circunstâncias do caso. Ainda segundo ela, sua participação no encontro visou trazer o contexto de que os relacionamentos abusivos podem ter nuances além das que costumam ser discutidas.
“Esse é um dos maiores pontos do debate. É a gente dar nome a esse crime que aconteceu. A Joyce está dentro da estatística de suicídio. Nós vamos debater qual foi o crime que se encaixa para o caso dela. Eu trouxe um material bem robusto, um material para observação para sensibilizar as instituições, tanto homens quanto mulheres da cultura que nós vivemos, de um caso que é secular. Muitas e muitas mulheres morrem nessas mesmas circunstâncias, esse tipo de relação entre agressor e vítima”, destacou.
Thiago Augusto Sampaio Borges tem 42 anos, é mineiro e acusado pela família da acreana Joyce Sousa
Cedida ao g1
Apoio e segurança
Bárbara Abreu Araújo, coordenadora do Núcleo de Direitos da Mulher e da Diversidade de Gênero da Defensoria Pública do Acre (DPE-AC).
Júnior Andrade/Rede Amazônica Acre
Para a coordenadora do Núcleo de Direitos da Mulher e da Diversidade de Gênero da Defensoria Pública do Acre (DPE-AC), Bárbara Araújo Abreu, o debate e, principalmente, medidas concretas, são necessária para a contenção dos números preocupantes. A defensora destaca ainda que é necessária atenção não só à capital, mas também para o interior, onde as condições costumam ser mais adversas.
“A gente sempre busca uma oitiva qualificada da vítima de modo também que não exista re-vitimização. Ou seja, para que ela não seja ouvida diversas vezes sobre aquele fato e para que ela não se sinta intimidada. Então, nós recebemos essa vítima, ouvimos, acolhemos, também acionamos a rede de proteção, bem como atuamos em conjunto com outros órgãos públicos para que seja dado o melhor tratamento possível para essas vítimas”, explicou.
Um dos fatores que contribuem para a perpetuação do cenário de violência, segundo a especialista, é a dependência econômica que as vítimas possuem, geralmente, dos cônjuges. Outra barreira que precisa ser superada é a do machismo, que ainda permeia a sociedade brasileira.
“Então, em briga de marido e mulher, a gente tem que meter a colher, sim. Então é esse tipo de prática, esse tipo de cultura enraizada, o machismo estrutural, nos avisando, nos gritando de que as vítimas elas precisam de ajuda, não só dos órgãos públicos, mas também da sociedade civil. Esses casos servem para nos mostrar de que o feminicídio está aí, tem cara, é um crime ‘democrático’, todas nós mulheres estamos sujeitas a ser vítimas, mas principalmente as mulheres que se encontram em situação de vulnerabilidade”, citou.
Caso Joyce: g1 mostra suspeito de violência psicológica e patrimonial contra mulher no AC
Sofrimento perpetuado
Jaqueline Sousa, irmã de Joyce, relata questionamentos e críticas injustas feitos à família
Júnior Andrade/Rede Amazônica Acre
Ainda conforme a irmã de Joyce, a audiência foi uma chance da família ser ouvida após a repercussão da morte da jovem. Segundo Jaqueline, além de lidar com a perda da irmã, os familiares precisaram lidar com questionamentos e críticas consideradas injustas.
“Nós vamos falar sobre isso, dentre outros casos que aconteceram de feminicídio, para tratar sobre o fluxo que as instituições seguem e também dinamizar esse passo a passo que a Joyce correu até ela cometer esse ato. E também tratar um ponto no qual nós somos sempre questionados: ‘Por que ela fez isso? Por que vocês não observaram? Vocês não perceberam que ela estava assim?’ E nós, família, viemos dizer: parem de fazer essa pergunta. Parem. Esse não é o ponto, não é o porquê que ela fez isso. Não é o porquê nós não observamos, porque isso culpabiliza tanto a gente quanto a família e quanto a Joyce. O ponto é saber o porquê que ele [suspeito] fez isso. É isso que a gente quer tratar”, acrescentou.
*Colaborou o repórter Júnior Andrade, da Rede Amazônica Acre.
VÍDEOS: g1