Rio Acre continua subindo e já chega a mais de 20 bairros de Rio Branco. Eduarda ajuda a transportar os vizinhos que tiveram as casas atingidas pela cheia
Eldérico Silva/Rede Amazônica
Enquanto a água ainda não tirou de casa a estudante Eduarda Pacheco, de 17 anos, ela se dedica em ajudar os vizinhos que também tiveram as casas atingidas pela cheia do Rio Acre. De canoa pelo bairro Ayrton Senna ela já tinha transportado dezenas de pessoas na manhã desta sexta-feira (14).
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“Aprendi a usar a canoa por conta da alagação. Vou continuar ajudando. Já já o eu saio também, já está chegando em casa mas fico por aqui ajudando,” diz ela.
Moradores saem de casa de canoa no bairro Ayrton Senna
Eldérico Silva/ Rede Amazônica
Nesta sexta, o nível do Rio Acre em Rio Branco ultrapassou os 15 metros e as águas chegaram a pelo menos 20 bairros. Dados repassados nesta sexta pela Defesa Civil mostram que 1,5 mil famílias foram afetadas pela cheia na capital. Há 60 desabrigados no Parque de Exposições e ao menos 100 famílias desalojadas.
Maria Dorismar é dona de casa, tem problemas de locomoção, e vive na mesma área em que Eduarda há 25 anos. Ela não quer sair de casa para o Parque de Exposições e pede para ir a algum abriggo em escola:
Maria tem problemas de saúde e não quer ir para o abrigo montado no Parque
Eldérico Silva/ Rede Amazônica
“Estou com problemas de saúde nas minhas pernas e mal consigo andar dentro de casa. O pessoal quer nos levar para a Expoacre, mas não tenho condições de ir. A situação está difícil, e a distância até lá é muito grande para quem não pode se locomover facilmente”, desabafa.
Maria também faz um apelo às autoridades e reclama da falta de água, que atinge Rio Branco desde quinta-feira após problemas nas estações de tratamento.
“Pedimos que abram uma escola aqui, no bairro. Não temos para onde ir e a Expoacre é muito longe. E o pior é que estamos sem água, nem para fazer um café. Estamos sem água, e a que temos é contaminada, vinda da alagação. Ninguém pode usar essa água, está completamente suja”, lamenta.
Bairro Seis de Agosto é um dos mais afetados pela cheia
Pedro Devani
⚠️Contexto: A cota de alerta do Rio Acre na capital é de 13,50 metros e a de transbordo é de 14 metros em Rio Branco. O manancial na capital está acima desta marca desde segunda-feira (10) e chegou a ter vazante na terça (11) e quarta (12). No entanto, ainda na noite de quarta, voltou a subir e segue neste ritmo a cada medição, que é feita a cada três horas. Ainda não há o número oficial de pessoas afetadas pela inundação.
De acordo com o coordenador da Defesa Civil Municipal, tenente-coronel Cláudio Falcão, ainda na quinta as primeiras famílias começaram a ser encaminhadas para o abrigo no Parque de Exposições Wildy Viana. Na manhã desta sexta, já haviam sido levadas cinco famílias, porém mais pessoas devem ser retiradas.
“Ainda vamos transportar daqui a pouco mais de 18 famílias e já temos em torno de 12 a 15 pedidos de retirada. Então, esse número deve aumentar bem significativamente agora ao longo da manhã. A gente vai seguindo com muito trabalho, e além do mais, temos que atender também a zona rural”, informou Falcão.
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Sobre o espaço preparado para os desabrigados, Falcão explicou que também já tem uma região específica para animais de estimação.
“Temos diversos espaços. Tem o espaço comum, espaço para idosos, tem um abrigo já montado pra quem tem autismo e também temos o local pra acolher os animais das pessoas. Inclusive até um fato curioso é que ontem uma família chegou com 15 galinhas no Parque de Exposições. A gente não pode deixar ninguém para trás, tudo é vida e a gente leva isso muito a sério”, disse ele.
Cheia atinge bairro Seis de Agosto em Rio Branco
Ano letivo
Além da preocupação com as famílias, a cheia do Rio Acre também pode impactar o início do ano letivo. O vice-prefeito e secretário municipal de Educação, Alysson Bestene, destacou que, embora a previsão seja para o início das aulas no próximo dia 17 de março, o aumento do volume das águas pode afetar algumas escolas, dificultando o acesso de alunos e profissionais da educação.
“A princípio, nós estamos com a programação toda pronta para iniciar o ano letivo no dia 17 de março, mas diante desse aumento do volume das águas, isso pode chegar em algumas escolas prejudicando os alunos e consequentemente os profissionais. A gente faz uma reprogramação desse início, mas a princípio está tudo mantido para começar dia 17″, afirmou o secretário.
Governador Gladson Camelí e vice-governadora Mailza Assis estiveram reunidos com o ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, para solicitar ajuda federal
Yasmin Fonseca/MIDR
Ajuda federal
O governador Gladson Camelí e a vice-governadora Mailza Assis se reuniram com o ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, em Brasília (DF), nesta quinta-feira (13) para pedir apoio do governo federal, caso a situação se agrave nos próximos dias.
“Nossa vinda a Brasília é para mostrar a situação que estamos enfrentando no Acre e pedir ajuda do governo federal, que sempre tem sido um grande parceiro em momentos difíceis. No ano passado passamos por uma grande cheia e, caso isso venha a se repetir, queremos estar prontos para atender à população com dignidade”, afirmou o governador.
A vice-governadora explicou ao ministro Waldez Góes que no último dia 10 de março, o Acre decretou situação de emergência em razão da elevação do nível dos principais rios do Acre. A medida tem validade de 180 dias.
“Essa é uma ação necessária para darmos uma resposta rápida no atendimento às pessoas. Temos dado todo o apoio, e destaco nossa atuação em relação às famílias de indígenas desabrigados pela cheia do Rio Acre. Elas estão sendo acolhidas da melhor maneira possível”, declarou Mailza, que também é secretária de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos.
Nível do Rio Acre continua aumentando na capital
Pedro Devani
Previsões
Após dois dias de redução, o Rio Acre voltou a subir na capital nesta quinta-feira (13), segundo a Defesa Civil Municipal. De acordo com Falcão, a elevação deve continuar a partir desta quinta.
O principal motivo desta previsão é o volume de chuvas que tem atingido o manancial em outros municípios do interior, como Brasiléia e Assis Brasil, desde a terça-feira. Essas águas chegam, gradativamente, até a capital. Ainda segundo o coordenador, as chuvas aconteceram em todo o estado.
“Nós tivemos muita chuva nas últimas 24 horas, nisso eu me refiro chuva entre 30 e 50 milímetros em todas as outras regiões, inclusive do Riozinho do Rola. Então, as coisas estão se acelerando”, complementou.
Falcão comentou ainda que pode haver um agravamento maior durante o final de semana.
“Pode até chegar a uma cota de 16 metros, que é uma previsão antiga já da Defesa Civil, onde foi feito um estudo. A Defesa Civil do município coordena todas as suas operações para que a gente possa realmente dar assistência a essas famílias atingidas”, afirmou ele.
Bairros afetados em Rio Branco:
Base
Airton Sena
Cadeia Velha
6 de agosto
Baixada da Habitasa
Cidade Nova
Triângulo
Taquari
Palheiral
Aeroporto Velho
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