Você Sabia?: conheça as curiosidades sobre a árvore sumaúma
Para os povos indígenas, a árvore sumaúma é sagrada: conecta o céu à terra, abriga espíritos e preserva a memória da floresta. Para a ciência, é essencial na conservação da Amazônia e uma poderosa aliada contra as mudanças climáticas. No Dia da Amazônia, celebrado em 5 de setembro, entenda porque a sumaúma, conhecida como a “rainha da floresta”, é símbolo de vida e resistência.
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A sumaúma (Ceiba pentandra), da família Malvaceae, é uma das árvores mais altas da Amazônia, podendo ultrapassar os 70 metros de altura e ter um tronco com mais de três metros de diâmetro. Embora seja um dos símbolos naturais da Amazônia brasileira, também é encontrada em outros biomas tropicais da América Central, África Ocidental e Sudeste Asiático, onde foi introduzida.
Em Manaus, exemplares da espécie podem ser observados no Parque Estadual Sumaúma (atualmente fechado para visitação) e no Museu da Amazônia (Musa), na Zona Leste da cidade.
ARTE TAMANHO SUMAÚMA (PEDIR DA REDE)
🌎 Aliada contra as mudanças climáticas
Mais do que imponente, a sumaúma tem um papel essencial no enfrentamento da crise climática. O grande porte permite que a árvore armazene toneladas de carbono ao longo da vida, funcionando como um estoque natural de CO2, um dos principais gases do efeito estufa.
“Durante o crescimento e a vida adulta, a planta retira grandes quantidades de CO2 do meio para o processo de fotossíntese. Esse carbono fica armazenado no caule, nas raízes e no solo ao redor. É uma grande poupança de CO2”, explicou a doutora em botânica da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Marta Regina Pereira.
O processo é fundamental para reduzir a concentração de gases na atmosfera e, com isso, ajudar a regular o clima global. No entanto, o equilíbrio é delicado: o desmatamento e as queimadas liberam o carbono de volta para a atmosfera, anulando décadas de “armazenamento”.
“Por isso que as queimadas são tão prejudiciais. Uma grande queimada na Amazônia é muito pior do que milhares de carros circulando, porque libera todo aquele CO2 que estava estocado nessas árvores”, alertou a botânica.
💧 Chuva que nasce das árvores
Outro papel essencial da sumaúma está no ciclo das chuvas. Como árvore emergente, daquelas que sobressaem ao dossel da floresta, a grande copa da espécie libera diariamente toneladas de vapor de água através da evapotranspiração.
“Mais importante do que a evaporação dos rios é a evapotranspiração das árvores na Amazônia. Árvores como a sumaúma formam nuvens que mantêm o clima úmido da floresta e provocam chuvas até em outras regiões do Brasil e do planeta”, detalha Marta.
O fenômeno ajuda a formar os chamados “rios voadores”, que distribuem umidade por toda a América do Sul.
Como nascem os rios voadores
Infografia/g1
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♻️ Regeneração e biodiversidade
A sumaúma também contribui para a regeneração da floresta. Os frutos, que se abrem ao amadurecer, liberam sementes envoltas por paina, uma fibra parecida com algodão. A estrutura permite que as sementes sejam dispersas pelo vento e protegidas no solo.
“Aquela paina ajuda na manutenção da umidade, protege o solo e proporciona um ótimo ambiente para a regeneração, não só da sumaúma, mas de outras espécies ao redor. A sombra e a ciclagem de nutrientes também favorecem o crescimento de novas plantas”, explicou Marta.
Além disso, a copa da árvore abriga aves como araras e tucanos, enquanto o tronco oferece refúgio para morcegos, macacos e roedores. As flores atraem polinizadores essenciais para o equilíbrio do ecossistema.
⚠️ Ameaças e desafios
Apesar da importância, a sumaúma enfrenta ameaças crescentes. O desmatamento para atividades agropecuárias, queimadas e a exploração madeireira têm colocado em risco até mesmo indivíduos centenários.
“Ela precisa de folhas e frutos caídos ao seu redor para manter a matéria orgânica no solo. Quando o entorno é desmatado, a árvore enfraquece e pode até morrer. O fogo também mata principalmente as mudas e plantas jovens”, declarou a especialista.
A árvore cresce rapidamente nos primeiros anos e pode atingir até cinco metros por ano em boas condições, segundo Marta Regina, mas precisa de solo com matéria orgânica, bastante luminosidade e chuvas abundantes (entre 1.500 e 2.000 mm por ano) para se desenvolver.
“Depois, ela estabiliza o crescimento entre 10 e 30 anos, atingindo de 10 a 30 metros. A maturidade plena dela é de 30 a 100 anos, aí é quando ela vai ser uma árvore já adulta, que a gente chama de clímax, e vai ter em torno de 50 a 60 metros. Acho que as adultas que a gente tem aqui na Amazônia, geralmente, têm em torno de 100 anos, essas maiores que a gente vê por aí”, disse.
Para garantir que a sumaúma continue a exercer seu papel ecológico, especialistas apontam a necessidade de proteger as áreas onde a espécie ocorre naturalmente, fomentar projetos de reflorestamento com espécies nativas e controlar queimadas e desmatamento ilegal.
A floresta amazônica não depende apenas de políticas públicas: depende também de árvores como a sumaúma, que silenciosamente ajudam a equilibrar o clima, gerar vida e preservar o futuro.
Sumaúma às margens do Rio Madeira
Marta Regina
Sumaúma às margens do Rio Solimões
g1 AM
Árvore Sumaúma no Parque Estadual Sumaúma, em Manaus.
Luis Paulo Dutra
COP30 – O que é e como funciona o mercado de carbono?