Açaí é um insumos mais proeminentes no Pará e com potencial de destaque na bioeconomia
DIBB
Nesta segunda-feira (28), quando é celebrado o Dia Mundial da Conservação da Natureza, o desafio global é equacionar a preservação do meio ambiente – sobretudo diante do contexto de crise climática que ameaça o planeta – sem abrir mão do desenvolvimento. Na Amazônia, essa equação passa pela bioeconomia, um modelo que une tecnologia, saberes tradicionais e uso sustentável dos recursos naturais para gerar renda, inovação e manter a floresta em pé.
E o futuro já começou. Somente no Pará, 13 cadeias da bioeconomia já movimentam R$ 9 bilhões por ano, com destaque para produtos como açaí, cacau e cosméticos naturais. Um levantamento recente aponta que, até 2050, o setor pode adicionar R$ 45 bilhões ao PIB brasileiro e gerar mais de 800 mil empregos.
“Conectar essas cadeias produtivas à economia urbana da região é o caminho para transformar potencial em realidade. Cidades como Belém podem ampliar o valor agregado desses produtos e distribuir renda de forma mais eficiente”, afirma Raul Ventura, coordenador do Distrito de Inovação e Bioeconomia de Belém (DIBB).
O que é bioeconomia?
A bioeconomia é um modelo de economia baseado no uso sustentável dos recursos naturais, como plantas, frutas, sementes, microorganismos e conhecimentos tradicionais, para produzir alimentos, cosméticos, medicamentos, energia, materiais e outros produtos de valor. Em vez de depender de fontes não renováveis, como petróleo, a bioeconomia usa a biodiversidade como base para gerar inovação, emprego e renda.
Ela é considerada a economia do futuro porque propõe um jeito de crescer economicamente sem destruir o meio ambiente. Ou seja, promove o desenvolvimento sustentável: mantém a floresta em pé, valoriza os saberes locais e ajuda a combater as mudanças climáticas. Além disso, tem um enorme potencial de mercado — globalmente, a bioeconomia pode movimentar trilhões de dólares até 2030 — e atrai cada vez mais interesse de empresas, governos e instituições de pesquisa.
Na Amazônia, ela se estrutura a partir da sociobiodiversidade, ou seja, a valorização do conhecimento tradicional, das populações locais e da floresta como ativos econômicos.
“É uma alternativa concreta de desenvolvimento que não depende do desmatamento. Pelo contrário, a floresta em pé se torna um elemento essencial para a manutenção e expansão dessas atividades”, explica Ventura.
Produção de cacau é uma aposta do estado no contexto da bioeconomia.
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Conheça 3 das principais cadeias de bioeconomia do Pará
A cadeia do açaí representa um modelo estratégico de bioeconomia para a Amazônia, ao equilibrar geração de renda, valorização dos saberes tradicionais e conservação ambiental. Com forte atuação internacional, cerca de 10% da produção do açaí é exportada, com destinos como Estados Unidos, Japão, Austrália e Alemanha, conforme dados da Embrapa Amazônia Oriental e do programa Manejaí, que atua com capacitação e inovação em comunidades produtoras ribeirinhas. A produção está concentrada em municípios como Igarapé-Miri, Cametá e Abaetetuba, onde predomina o modelo tradicional familiar aliado a práticas agroecológicas e tecnológicas.
Segundo o estudo “Bioeconomia da Amazônia: Cacau e Açaí”, publicado pelo WRI Brasil em parceria com a FGV e Climate Policy Initiative (2021), a cadeia do açaí empregava 164,4 mil pessoas em 2020, sendo 86% no campo, com um valor de produção estimado em R$ 4,7 bilhões em operações industriais e exportações. No mercado local de Belém, o consumo gerou cerca de R$ 1,08 bilhão, absorvendo quase 50% do valor externo da economia paraense.
“Iniciativas de reaproveitamento de resíduos — como o uso de caroços de açaí na produção de bioplásticos, fertilizantes e biocombustíveis — ampliam o valor agregado local e tornam o açaí um exemplo de como é possível transformar biodiversidade em desenvolvimento sustentável”, destaca Antonio Abelém, coordenador de Inovação do DIBB.
O Pará é o maior produtor de cacau do Brasil, responsável por cerca de 51,8% da produção nacional, com mais de 145 mil toneladas colhidas em 2022, segundo dados do IBGE e da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap) em parceria com a Ceplac.
A cadeia envolve mais de 31,5 mil produtores, majoritariamente agricultores familiares que cultivam em sistemas agroflorestais, contribuindo com a recuperação de áreas degradadas e promovendo práticas sustentáveis. De acordo com a Fapespa, o valor bruto da produção paraense de cacau alcançou R$ 2,4 bilhões em 2023, com tendência de crescimento.
A exportação de amêndoas fermentadas e derivados também avança: Japão e Holanda são alguns dos destinos internacionais, ainda que 95% da produção seja direcionada a indústrias na Bahia, conforme o Programa Procacau. Cooperativas como CAMTA e CEPOP já exportam cerca de 2% do volume total. A cadeia produtiva gera aproximadamente 350 mil empregos diretos e indiretos, segundo dados do Senar-PA e do Governo do Pará, com destaque para iniciativas de verticalização como a produção local de chocolate fino e orgânico.
“Esses elementos colocam o cacau como vetor estratégico da bioeconomia amazônica, integrando conservação ambiental, geração de renda e saberes locais”, diz Antonio Abelém, coordenador de inovação do projeto..
Bioeconomia é fator essencial para o desenvolvimento sustentável
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Outro destaque são os biocosméticos no Pará, que transformam recursos naturais nativos em produtos de alto valor agregado. De acordo com dados do Sebrae Pará (2024), a biodiversidade da região, que abriga cerca de 300 espécies por hectare, incluindo andiroba, copaíba, pracaxi e murumuru, vem atraindo investimentos em extrativismo sustentável e inovação tecnológica para a produção de biocosméticos.
Projetos como o Ecoparque Industrial em Benevides, vinculado ao Programa Biopará e ao Parque de Ciência e Tecnologia Guamá, atuam na pesquisa, certificação e desenvolvimento de insumos amazônicos, promovendo a agregação de valor local. A certificação do Selo Amazônico, coordenada pelo Instituto de Metrologia do Pará, assegura padrões ambientais e éticos para os produtos, fortalecendo a confiança no mercado nacional e internacional.
Segundo relatório da Embrapa Amazônia Oriental, o óleo de murumuru, extraído de uma palmeira típica da Amazônia, é um dos principais ingredientes exportados para a Europa, Ásia e América do Norte, integrando cadeias produtivas que beneficiam diretamente comunidades extrativistas no Pará.
Enfrentamento da crise climática
Além do impacto econômico, o avanço da bioeconomia é vital no enfrentamento da crise climática. Estima-se que o uso sustentável dos recursos naturais possa preservar até 81 milhões de hectares de floresta, aumentar o estoque de carbono em 19% e reduzir drasticamente as emissões agropecuárias até 2050.
O mercado global da bioeconomia pode ultrapassar US$ 7,7 trilhões até 2030, impulsionado pela demanda por soluções baseadas na natureza.
“Cada R$ 1 investido em bioeconomia pode gerar até R$ 1,40 em valor bruto ao comércio. É uma das melhores apostas para garantir desenvolvimento com floresta em pé”, reforça Raul Ventura.
Editais para fomentar negócios sustentáveis
Com Belém se preparando para sediar a COP 30, em novembro de 2025, a bioeconomia ganha ainda mais protagonismo. A cidade se projeta como vitrine global da inovação sustentável.
Como parte desse movimento, o DIBB — uma iniciativa da Universidade Federal do Pará (UFPA) com a Prefeitura de Belém, FADESP e Itaipu Binacional — lançou quatro editais voltados à bioeconomia e à inovação urbana, com inscrições abertas até as 23h59 desta terça-feira (29).
O objetivo é selecionar ideias e empreendimentos sustentáveis que atuem na Região Metropolitana de Belém. Ao todo, são R$ 2 milhões em recursos, além de mentorias, oficinas e apoio técnico.
“O DIBB articula ciência, empreendedorismo e recuperação urbana. Tem tudo para se tornar um polo permanente de inovação e desenvolvimento para a Amazônia”, destaca Antonio Abelém, coordenador de inovação do projeto.
Veja os editais:
🔹 Edital 1 – Pré-Incubação de Empreendimentos Amazônicos: Para quem tem uma ideia sustentável nas áreas de alimentos nativos, cosméticos, rastreabilidade, saneamento ou turismo.
🔹 Edital 2 – Aceleração de Empreendimentos Amazônicos: Destinado a empresas já em operação que queiram escalar suas soluções sustentáveis na Amazônia.
🔹 Edital 3 – Pré-Incubação para Soluções Urbanas: Focado em ideias aplicáveis às cidades da região: mobilidade, resíduos, água, energia, entre outros.
🔹 Edital 4 – Aceleração para Soluções Urbanas: Para negócios urbanos sustentáveis em fase de crescimento.
Inscrições pelo site: www.dibbelem.com.br/editais
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