Templo religioso centenário no Centro da cidade corre o risco de desabar por causa de danos severos à estrutura. Campanha pede ajuda da sociedade para custear R$ 14 milhões do restauro. Salve a Catedral: Campanha levanta recursos para restaurar igreja em Ribeirão Preto
A historiadora Nainora Maria Barbosa de Freitas afirma que a preservação da Catedral de São Sebastião, um dos principais símbolos de Ribeirão Preto (SP), está acima da religião.
O templo religioso centenário erguido na Rua Florêncio de Abreu, no coração da cidade, sofreu danos severos na estrutura ao longo do tempo e corre o risco de desabar. Para recuperar o patrimônio, são necessários R$ 14 milhões e uma campanha foi lançada para envolver a sociedade ribeirão-pretana na arrecadação de fundos.
“Ela está acima da fé. Ela é um bem cultural importantíssimo para Ribeirão Preto, do ponto de vista tangível e intangível, pela memória que ela guarda e carrega consigo, das histórias que ela traz, das pessoas que por aqui passaram”, afirma Nainora.
Faça parte do canal do g1 Ribeirão e Franca no WhatsApp
Imagem aérea da Catedral de São Sebastião em Ribeirão Preto, SP, rodeada pelas árvores da Praça das Bandeiras
Aurélio Sal/EPTV
Um pouco da história
A fundação da paróquia data de 1870. Antes de ser elevada à catedral, foi feito um concurso para escolher a planta que daria origem à igreja matriz de Ribeirão Preto.
“Foi escolhido um projeto do Carlos Ekman e ele era um arquiteto sueco passando por Ribeirão Preto. Foram feitas algumas adaptações desse projeto e aí, aos poucos, ela foi sendo construída. Em 1908, foi construída a Diocese de Ribeirão Preto, instalada no início de 1909, quando o primeiro bispo chega”, conta Nainora.
Segundo a historiada, foi nessa época que teve início a construção da Catedral de São Sebastião, inclusive com a participação da população, que abraçou a obra.
“A população fez rifa, fez doações que iam de galinha a gado, saca de café, etc, cones de doces para quermesses. Então a população prestigiou o que era aquela que viria ser a sua catedral. Da mesma forma que o primeiro bispo colocou aqui mais de 200 contos de réis, ele era um homem rico, senador da República pelo Paraná, e ele colocou toda a fortuna dele pra construir essa Catedral.”
Altar da Catedral de Ribeirão Preto, SP, tem imagem do padroeiro, São Sebastião
Aurélio Sal/EPTV
Do lançamento da pedra fundamental à conclusão do prédio passaram-se décadas. Após o término, havia ainda o desafio de decorá-la por dentro. Para isso, artistas importantes da época foram chamados para colocarem seu talento na assinatura do templo.
“Por volta de 1918, começou a decoração interna. Na sequência, a instalação das obras de Benedito Calixto, a pintura da cúpula por Nicolau Biagini, afrescos laterais por Joaquim d’Athaide. Então foi uma construção coletiva, não só de vários artistas que trabalharam, como, também, de muitas pessoas que doaram para construir os altares laterais ou comprar tijolos”, diz Nainora.
Despertar do senso coletivo
Os fatos demonstram, na opinião da historiadora, que já naquela época havia um senso coletivo sobre a importância da união de forças para o bem comum. E é exatamente esse senso que precisa ser despertado agora na sociedade em Ribeirão Preto para recuperar o patrimônio.
“A Catedral é parte dessa identidade ribeirão-pretana, principalmente porque ela é parte dessa história construída de uma identidade centenária. Vamos pensar em um piso centenário. Para muita gente, ele está velho e gasto. Não, ele carrega as memórias e lembranças de quem ao longo desse século passou pela Catedral, entrou pra rezar, entrou pra agradecer, pra pedir, entrou só pra ter um descanso num horário de calor, porque aqui é fresquinho, ou se abrigar da chuva, ou quaisquer outros motivos. Então a Catedral carrega essa herança que nós podemos falar, secular, da memória histórica de Ribeirão Preto.”
Imagem aérea da Catedral de São Sebastião em Ribeirão Preto, SP, rodeada pelas árvores da Praça das Bandeiras
Aurélio Sal/EPTV
Problemas estruturais
Mas o patrimônio histórico e cultural pode ser perdido se medidas não forem tomadas para a preservação, já que as rachaduras no prédio só pioram com o passar do tempo.
“Nós não estamos mais falando de rachaduras e, sim, de aberturas. Na parte externa, as tensões fizeram com que ela simplesmente torcesse. Ela bateu a parte frontal e aliviou as tensões na platibanda [espécie de muro que fica na parte superior da construção], no friso lateral. Com as chuvas, ela vai tendo cada vez mais abertura, uma trinca progressiva. Vai começar a estourar vitral, começa a craquelar, começa processos de oxidação, corrosão, é urgente tomar medidas”, explica o engenheiro de estruturas e arquiteto Oscar Eustáquio Silva Mendes.
LEIA TAMBÉM:
Condephaat aprova 1ª etapa de restauro da catedral de Ribeirão Preto
Novo laudo aponta que rachaduras aumentaram na Catedral de Ribeirão
Reforma de ruas ao redor da catedral de Ribeirão Preto custará R$ 5 milhões
Empresa avalia impacto de ônibus na estrutura da Catedral de Ribeirão
TJ-SP derruba lei e autoriza obras no entorno da catedral de Ribeirão Preto
Para pensar soluções e elaborar o projeto de reforma, foi criada uma comissão, com representantes de diferentes setores da sociedade, que atua inclusive no plano para arrecadar recursos na campanha ‘Salve a Catedral’. O restauro só poderá ser feito com empenho de toda a comunidade, destaca o empresário Renato Aguiar, presidente da comissão.
“Se não salvarmos a Catedral, ela vai cair. Não é exagero nenhum. Por isso essa união de muitas pessoas, e que elas tragam mais pessoas para ajudar. Temos laudos de escritórios de engenharia seríssimos, mais de um, feitos por escritórios especializados. As rachaduras são imensas, é uma coisa que no altar tinha rachadura que passava um braço.”
Rachaduras na parte externa da Catedral Metropolitana de São Sebastião em Ribeirão Preto, SP
Aurélio Sal/EPTV
Ao todo, são necessários R$ 14 milhões, mas, neste primeiro momento, para salvar a parte estrutural, o investimento é de quase R$ 2 milhões.
“Precisamos reforçar a fundação, reerguer o prédio para ele chegar no nível, colocar entre os elementos uma mola viscoelástica para que ela absorva o que a gente chama de resposta estrutural dinâmica. É como se a [rua] Florêncio de Abreu fosse uma ponte, nós temos impacto diários e todo esse impacto passa para a Catedral. Se colocarmos só estacas, vai continuar a vibrar e em 50 anos pode acontecer de novo”, explica o engenheiro.
Revista à venda para levantar fundos
Uma das ações para levantar fundos é a venda de revista com a história da Catedral. A publicação está à venda por R$ 15, na secretaria paroquial, e reúne curiosidades e a memória do templo religioso.
“Um grupo dentro da comissão elaborou a revista, ganhamos a edição de uma gráfica. Ela está sendo vendida para reunir recursos. Ficou bonita, tem um bom conteúdo, as pessoas que comprarem poderão presentear. Ela conta as histórias de São Sebastião e seu martírio, fala sobre as telas de Benedito Calixto que estão aqui no altar”, diz o padre Chico.
Altar da Catedral Metropolitana de São Sebastião em Ribeirão Preto, SP
Aurélio Sal/EPTV
Segundo Renato Aguiar, várias ações estão sendo programadas para levantar o dinheiro necessário. Entre elas a realização de uma quermesse em maio de 2025, que ele afirma que será a maior da história da cidade.
“Estou muito animado, minha mãe que frequenta a catedral, mora aqui no Centro, me pediu para ajudar. Vamos fazer varias ações e, no meio do ano, vamos fazer a maior quermesse da história de Ribeirão Preto. Eu não nasci em Ribeirão Preto, mas moro aqui há 40 anos, sou ribeirão-pretano de coração e me sinto na obrigação disso”, afirma.
Vitral da Catedral Metropolitana de São Sebastião em Ribeirão Preto, SP
Aurélio Sal/EPTV
Veja mais notícias da região no g1 Ribeirão e Franca
Vídeos: Tudo sobre Ribeirão Preto, Franca e região