Pesquisa ressalta, por outro lado, que bactéria pode ser atenuante no enfretamento à doença, indicando caminho para tratamento menos invasivo. Entenda relações. Pesquisa do Hospital de Amor relaciona bactéria da boca a casos de câncer
Uma pesquisa realizada pelo Hospital de Amor de Barretos (SP) aponta que uma bactéria presente na boca está diretamente ligada a casos de câncer de cabeça e pescoço.
Essa bactéria é identificada como Fusobacterium nucleatum. Ela faz parte do biofilme dental, mais conhecido como placa bacteriana, que se alimenta dos resíduos que não foram devidamente removidos dos dentes durante a escovação.
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Já se sabe que a proliferação descontrolada da bactéria pode causar doenças como a periodontite, uma inflamação grave da gengiva. A novidade revelada pelo estudo é que a superpopulação dessa bactéria também aumenta significativamente as chances de desenvolvimento de câncer de cabeça e pescoço.
O médico Rui Reis, diretor científico do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital de Amor, explica como a relação foi detectada.
“Associamos isso também a outros fatores, como tabaco, álcool e o HPV, que são elementos que sabemos que podem conduzir um indivíduo a ter um melhor ou pior prognóstico. E ela [a bactéria] era independente, ou seja, quando a bactéria está presente, ela contribui para o aparecimento do câncer.”
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores analisaram amostras de tumores de mais de 90 pacientes.
O teste utilizado foi uma versão digital e muito mais sensível do PCR, o mesmo exame usado amplamente durante a pandemia para detectar casos de Covid-19. O resultado apontou a Fusobacterium nucleatum na maioria dos tumores estudados.
“Nossa surpresa foi encontrar que, dentro do tumor, ela estava presente em mais da metade, 60% de todos os tumores dos pacientes tinham essa bactéria”, revela Dr. Rui Reis.
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Fator de risco x atenuante
Por outro lado, a pesquisa constatou que, embora a presença da bactéria em grande concentração seja um fator de risco, ela é também um atenuante. Isso porque, quando a bactéria foi encontrada dentro dos tumores analisados, os casos eram menos agressivos.
Essa constatação difere do que é observado em outros tipos de câncer, como o colorretal.
“Nós estávamos na espera de encontrar algo que acontece no câncer colorretal, que é quando a bactéria está presente, o tumor é mais agressivo. E quando fomos estudar a pessoa, [observamos que] temos um prognóstico melhor”, afirma Reis.
Os pacientes com tumores que apresentavam a bactéria tiveram uma sobrevida média de cinco anos, enquanto aqueles sem a presença da Fusobacterium nucleatum viveram, em média, três anos.
Tratamentos mais humanizados e prevenção
A pesquisa do Hospital de Amor de Barretos enfatiza a importância da saúde bucal na prevenção e detecção precoce do câncer de cabeça e pescoço, com foco na conscientização e rastreamento.
Ela também pode indicar o caminho para um tratamento mais humanizado e menos invasivo, além de mudar a forma como os casos são investigados e monitorados.
“Utilizando a mesma técnica muito sensível, conseguimos monitorizar [a bactéria] na saliva. Então não precisamos tirar o tumor, de fazer uma biópsia, de fazer uma anestesia. Isso pode até primeiro modificar para evitar que apareça, então pode ser utilizado para prevenção, e no contexto agora do paciente que tem, talvez seja um paciente que não precise de um tratamento tão agressivo”, completa o médico.
Estudo inédito revela ligação entre bactéria presente na boca e o desenvolvimento de tumores de cabeça e pescoço, abrindo caminho para detecção precoce e terapias menos invasivas.
Reprodução EPTV
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