
Nesta terça-feira (10), Antony Blinken, secretário de Estado americano, afirmou que os Estados Unidos, que cortaram relações diplomáticas com a Síria em 2012, reconheceriam um futuro governo sírio se fosse confiável, inclusivo e respeitasse os direitos das minorias. Tropas dos Estados Unidos estão na Síria porque têm uma “missão importante a cumprir” no país, revelou o vice-conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jon Finer, em uma entrevista na conferência Reuters NEXT, em Nova York, nesta terça-feira (10).
A declaração, sem maiores detalhes, ocorreu ao mesmo tempo em que o Exército israelense disse que atingiu a maior parte dos estoques de armas estratégicas na Síria nas últimas 48 horas, e que navios de mísseis da Marinha atingiram duas instalações navais sírias.
Nesta terça, mais cedo, Antony Blinken, secretário de Estado americano, afirmou que os Estados Unidos, que cortaram relações diplomáticas com a Síria em 2012, reconheceriam um futuro governo sírio se fosse confiável, inclusivo e respeitasse os direitos das minorias.
Primeiro-ministro interino
Mohamed al-Bashir, líder oposicionista na Síria que assume como primeiro-ministro interino até 1º de março de 2025.
Reprodução/Ministério da Informação do Governo da Salvação síria
O líder da oposição na Síria, Mohamed al-Bashir, disse em um pronunciamento televisionado nesta terça-feira (10) que ele ficará no poder como primeiro-ministro interino do país até 1º de março de 2025.
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A oposição síria é composta por uma coalizão com diferentes grupos, inclusive dos rebeldes do HTS, que derrubaram o ditador Bashar al-Assad, que estava há 24 anos no poder.
O anúncio desta terça ocorre em meio a negociações pela formação de um novo governo na Síria, realizadas por membros da oposição, como al-Bashir, Abu Mohammed al-Golani, chefe do HTS, e integrantes do governo Assad remanescentes no país, como o primeiro-ministro Mohammed Jalali.
Mohamed al-Bashir comanda o Governo da Salvação Síria, que comandava do reduto rebelde de Idlib, no noroeste da Síria.
Atrás de al-Bashir durante seu anúncio estavam duas bandeiras: a bandeira verde, preta e branca usada pelos opositores de Assad durante a guerra civil, e uma bandeira branca com a declaração de fé islâmica escrita em preto, comumente utilizada na Síria por combatentes islâmicos sunitas.
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Retomada da guerra na Síria
O grupo rebelde jihadista HTS tomou a capital síria Damasco neste final de semana e derrubou o governo de Bashar al-Assad. O ditador se mantinha no poder com apoio militar de aliados como a Rússia e o Irã.
A guerra civil na Síria começou em 2011 e, nos últimos quatro anos, parecia estar adormecida. Após um período sangrento de confrontos, que deixaram cerca de 500 mil mortos e causaram um enorme êxodo de sírios, o ditador conseguiu manter o controle sobre a maior parte do território graças ao suporte da Rússia, do Irã e da milícia libanesa Hezbollah.
No entanto, agora a Rússia está em guerra com a Ucrânia, e o Irã vive um conflito com Israel. O Hezbollah, por sua vez, perdeu seus principais comandantes neste ano, mortos em ataques israelenses.
Para os analistas, essa situação faz com que nem Putin nem o regime iraniano estejam dispostos a entrar de cabeça em mais uma guerra.
Um porta-voz do governo da Ucrânia disse que a escalada do conflito na Síria mostra que a Rússia não consegue lutar em duas guerras ao mesmo tempo.
Informações publicadas no sábado indicam que o Hezbollah e o regime iraniano estão retirando tropas que mantêm na Síria.
O cientista político Guilherme Casarões, da Fundação Getúlio Vargas, diz que não é uma coincidência a ofensiva ter sido lançada agora.
“Aqueles que eram os três principais aliados do governo Assad, Hezbollah, Irã e Rússia, estão meio que fora desse envolvimento direto com o conflito, o que abriu uma oportunidade para que os rebeldes tentassem retomar certas posições estratégicas dentro do país. Aleppo, sendo a segunda maior cidade da Síria, é o primeiro destino que eles ocuparam.”
Segundo o professor, o acirramento do conflito pode ter consequências em todo o Oriente Médio. Se Assad cair, afirma ele, isso pode criar um vácuo de poder e escalar ainda mais as guerras que envolvem Israel, Hamas, Hezbollah e Irã.
Asilo político na Rússia
O Kremlin, sede do governo russo, afirmou na segunda-feira (9) que a Rússia concedeu asilo político a Bashar al-Assad, ditador sírio deposto neste final de semana. Segundo o porta-voz presidencial, Dmitry Peskov, a decisão para asilar Assad e sua família foi do presidente Vladimir Putin.
A agência russa Tass havia informado no domingo que Assad está em Moscou, capital da Rússia. Também no domingo, a Rússia afirmou que o ditador sírio deixou seu país e ordenou uma “transição pacífica de poder”.
No entanto, o Kremlin se recusa a confirmar a presença de Assad na Rússia. “Quanto ao paradeiro do presidente Assad, não tenho nada para falar a vocês. O que aconteceu surpreendeu o mundo inteiro. Nós não somos exceção”, disse Peskov à imprensa.