Guilherme Arantes canta e toca piano em show apresentado no sábado, 30 de novembro, na casa carioca Qualistage
Babi Furtado e Dantas Jr. / Divulgação Qualistage
♫ OPINIÃO SOBRE SHOW
Título: Guilherme Arantes
Artista: Guilherme Arantes
Data e local: 30 de novembro de 2024 no Qualistage (Rio de Janeiro, RJ)
Cotação: ★ ★ ★ ★ ★
♪ “Obrigado pela paciência”, agradeceu Guilherme Arantes, se dirigindo ao público da casa carioca Qualistage após cantar a longa música-título do mais recente álbum de músicas inéditas do artista paulistano, A desordem dos templários (2021).
Ao dar voz aos versos quilométricos da composição A desordem dos templários, Arantes cavalgou majestoso sobre o universo épico das cruzadas medievais. O público ouviu o tema em silêncio respeitoso. Daí o agradecimento do cantor.
Arantes sabia que quem ocupava uma das mesas, suítes ou camarotes do Qualistage na noite de sábado, 30 de novembro, estava ali para ouvir todos os sucessos desse mago do pop brasileiro que marcou época nas décadas de 1970 e 1980 em reinado que se estendeu até 1991, ano da canção Sob o efeito de um olhar (ausência sentida no roteiro).
Foi para esse público que Arantes fez um show que transcorreu azeitado, coeso, com a pegada forte de banda em que sobressaiu o já lendário guitarrista Luiz Carlini e com um roteiro repleto de sucessos.
Para quem queria hits, o cantor entregou tudo. Ou (quase) todos, pois Guilherme Arantes precisaria ter ficado no palco por no mínimo três horas se tivesse realmente revivido todos os sucessos como cantor e/ou compositor.
Mas o suprassumo da obra foi cantado, sendo que o artista também mostrou no palco que o compositor de 71 anos continua na ativa e inspirado quando, em set solo de piano, Arantes cantou O prazer de viver para mim é você (2024), balada de aura clássica que deu para Claudette Soares e que gravou com a cantora antes de registrar na sequência a própria versão solo da bela canção. “Peguei ciúme da música”, admitiu no palco do Qualistage.
Guilherme Arantes reina no palco da casa carioca Qualistage em show que durou duas horas
Babi Furtado e Dantas Jr. / Divulgação Qualistage
Considerando que o roteiro incluiu Raça de heróis (1989) – tema que o compositor criou na época da banda Moto Perpétuo (1973 / 1975) e que reciclou para ser um dos temas principais da novela Que rei sou eu? (Globo, 1989) – e a já citada balada recente feita para Claudette Soares em 2024, pode-se dizer que Arantes resumiu 50 anos de música em duas horas de show.
Inteiramente autoral, o roteiro resultou bem costurado. O primeiro bloco foi com canções de aura progressiva, embora tal rótulo seja redutor porque, como o artista ressaltou em cena, o rock progressivo da década de 1970 é somente uma das influências mais nítidas de um som que também bebeu das fontes do Clube da Esquina, em especial da obra de Lô Borges, para citar somente outra referência.
Nesse bloco inicial, Arantes alinhou obras-primas como Amanhã (1977) e Êxtase (1979), seguindo com Brincar de viver (parceria com Jon Lucien, de 1983) e com Pedacinhos (Bye bye so long) (1983), canção de despedida que o autor revelou ter feito para Vanusa (1947 – 2021), mas que a cantora nunca gravou. Na sequência, a balada Nossa imensidão a dois (2018) foi apresentada com a informação de que foi feita para Wanderléa (para álbum abortado pela Ternurinha antes da gravação).
“Meu sonho era ser Taiguara”, revelou Arantes antes de começar a cantar Meu mundo e nada mais (1976), balada que detonou a explosão do cantor, então se lançando em carreira solo, ao ser incluída na trilha sonora da novela Anjo mau (1976).
Guilherme Arantes sintetiza 50 anos de músicas em duas horas de show na casa carioca Qualistage
Babi Furtado e Dantas Jr. / Divulgação Qualistage
No set solo em que ficou a sós no palco com o piano, Arantes cantou Berceuse (2022) – acalanto que fez para Alaíde Costa com inspiração em tema do compositor Gabriel Fauré (1845 – 1924) com versos do poeta Paul Verlaine (1844 – 1896) – e Um dia, um adeus (1987), grande balada acompanhada pelo público em coro desde o primeiro verso.
Com a banda de volta, Planeta água (1981) gravitou em torno de arranjo épico, evidenciando a total sintonia entre cantor e banda.
Com direito a um “Viva Elis!” gritado pelo cantor, Aprendendo a jogar (1980) abriu bloco em que Arantes enfileirou músicas em que alcançou a perfeição pop ao longo dos anos 1980, casos de Deixa chover (1981), Lance legal (1982) e, sobretudo, de O melhor vai começar (1982), música em que Arantes vislumbrou novo começo de era pop na qual reinou ao lado de Lulu Santos (outro mago do pop brasileiro dos anos 1980).
Sem falar em Perdidos na selva, música composta por Arantes com Júlio Barroso (1953 – 1984) para ser cantada pela Gang 90 & Absurdettes em festival de 1981, mas creditada somente a Júlio (mentor e líder da banda) porque Arantes já concorria com outra música naquele festival (a já mencionada Planeta água).
Guilherme Arantes saúda o público em show na casa Qualistage, no Rio de Janeiro (RJ)
Babi Furtado e Dantas Jr. / Divulgação Qualistage
Como não aderir ao tempo de Loucas horas (1986), pop ensolarado muito bem gravado por Verônica Sabino em tributo fonográfico a Arantes editado em 2011? E como resistir a Cheia de charme (1985), petardo certeiro? Não há como!
É por isso que Guilherme Arantes continua seduzindo um público hoje com meia-idade que viveu a linda juventude ao som de músicas desse grande compositor. É também por isso que, quando o cantor saiu do palco após soltar Lindo balão azul (1982) no arremate do bis iniciado com Fã nº 1 (1985), a plateia do Qualistage estava leve, feliz. A magia tinha se feito.
E, a todo mundo, somente restou agradecer e aplaudir de pé esse excepcional arquiteto do pop brasileiro. Obrigado, Guilherme Arantes!
Guilherme Arantes segue roteiro bem alinhavado em show de duas horas na casa carioca Qualistage
Babi Furtado e Dantas Jr. / Divulgação Qualistage