Palácio do Itamaraty
Reprodução/ Agência Brasília
O Ministério das Relações Exteriores de Israel anunciou nesta segunda-feira (25) que vai “rebaixar” as relações com o Brasil depois que o Itamaraty ignorar a indicação de um novo embaixador.
As informações são do jornal “The Times of Israel”. O Itamaraty não comenta o assunto.
Israel havia indicado o diplomata Gali Dagan no início do ano para assumir a embaixada em Brasília. Para exercer a atividade, no entanto, é necessária a concessão de uma autorização, chamada de “agrément”, do país que o recebe. Tal autorização é praxe em todas as relações entre países.
Tecnicamente, o Brasil não teria se recusado a conceder o agrément, mas deixou o pedido em análise, sem respondê-lo. Em relações internacionais, a atitude é vista como equivalente a uma recusa.
Nesta segunda, Israel disse que retirou sua indicação a Dagan e disse que não vai submeter um novo nome ao Itamaraty, declarando que as relações com o Brasil serão conduzidas “em um patamar inferior” diplomaticamente.
“Após o Brasil, excepcionalmente, se abster de responder ao pedido de agrément do embaixador Dagan, Israel retirou o pedido, e as relações entre os países agora são conduzidas em um nível diplomático inferior”, diz um comunicado do ministério.
Ao repórter da TV Globo Ricardo Abreu, o assessor de Assuntos Internacionais da Presidência, Celso Amorim, disse que não houve veto contra Dagan, e que a ausência do agrément é uma resposta ao tratamento recebido pelo ex-embaixador do Brasil (leia mais abaixo).
“Não houve veto. Pediram um agreement e não demos. Não respondemos. Simplesmente não demos. Eles entenderam e desistiram. Eles humilharam nosso embaixador lá, uma humilhação publica. Depois daquilo, o que eles queriam?”, disse Amorim.
“Digo e repito: nós queremos ter uma boa relação com Israel. Mas não podemos aceitar um genocídio, que é o que tá acontecendo. É uma coisa absurda o que está acontecendo lá”, afirma Amorim, em relação à ofensiva israelense em Gaza.
O Brasil retirou em maio de 2024 seu embaixador em Tel Aviv, Frederico Mayer. Desde então, o Itamaraty mantém o cargo vago, sem submeter nenhum nome à aprovação de Israel. “Nós não somos contra israel. Somos contra o que o governo Netanyahu está fazendo, que é uma barbaridade.”
Lula considerado ‘persona non grata’
O comunicado reafirma que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é considerado “persona non grata” pelo governo israelense. A declaração foi feita em fevereiro de 2024.
“A linha crítica e hostil que o Brasil demonstra em relação a Israel desde 7 de outubro se intensificou a partir do momento em que o presidente Lula comparou as ações de Israel às dos nazistas. Em resposta, Israel ‘o declarou persona non grata'”, afirma a chancelaria.
“O Ministério das Relações Exteriores continua a manter laços profundos com os muitos círculos de amigos de Israel no Brasil”, diz o comunicado.
As relações entre os dois países se encontram estremecidas desde o início do ano passado, quando Lula criticou a ofensiva de Israel na Faixa de Gaza, após os ataques terroristas de 7 de outubro de 2023.
Ao comparar a resposta israelense aos ataques do Hamas com o que Adolf Hitler fez com os judeus no século passado, Lula irritou autoridades de Israel no país. Na ocasião, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse que o brasileiro havia cruzado a “linha vermelha”.
Na sequência, o chanceler israelense, Israel Katz, levou Meyer ao Museu do Holocausto, o que foi visto por diplomatas brasileiros como uma forma de “humilhar” o diplomata e, consequentemente, o próprio Brasil.