Vítima de 9 anos ficou internada 11 dias na UTI e não resistiu. Delegado diz que vai buscar responsáveis pelo projeto e instalação do dispositivo. Resort afirmou que não teve acesso ao laudo, mas está à disposição das autoridades. Laudo aponta irregularidade em dispositivo que afogou menina em resort de Campinas
A Polícia Civil informou na tarde desta quarta-feira (18) que o dispositivo de sucção responsável por prender o cabelo da menina de nove anos e afogá-la no fundo da piscina de um resort em Campinas (SP) no dia 23 de novembro estava irregular. A vítima ficou submersa por sete minutos e morreu 11 dias depois do acidente no hospital.
De acordo com o delegado Luiz Fernando Marucci, responsável pela investigação do caso, a irregularidade foi apontada pelo laudo pericial do Instituto de Criminalística (IC).
“O dispositivo onde aconteceu o acidente está em total desconformidade com as normas técnicas. Esse tópico é muito importante para nós agora no curso da investigação, porque a partir de agora nós vamos buscar informações de quem foi o responsável por colocar aquele dispositivo lá, então o engenheiro, o técnico responsável pelo projeto e o engenheiro técnico responsável pela execução desse projeto, para ver se constava ou não esse dispositivo da forma em que foi encontrado e foi periciado pelos peritos no local”, explicou o delegado.
Em nota, o Royal Palm Plaza Resort hotel informou que tem colaborado com as investigações desde o primeiro momento e que não teve acesso ao laudo. “O dispositivo do retorno da cascata, no qual aconteceu o acidente, foi desconectado e a cascata desligada de forma definitiva”. (Veja mais abaixo)
Piscina no The Royal Palm Plaza, onde criança se afogou em Campinas, foi isolada
Arquivo pessoal
Lei obriga segurança
Marucci explicou que esse dispositivo, responsável por abastecer uma cascata da piscina do resort, é permitido, porém, a lei vigente obriga a presença de equipamentos de segurança que impeçam a sucção de cabelos e de partes do corpo debaixo d’água.
“Nós temos uma legislação, salvo engano de 2022, que coloca de uma maneira muito clara que os responsáveis pelas piscinas em funcionamento e em construção têm que obedecer alguns critérios, que esses critérios são dispositivos que evitem qualquer tipo de enlace, aprisionamento, que as pessoas consigam inserir qualquer objeto lá que possa gerar algum tipo de acidente”, afirmou Marucci.
O delegado disse que vai solicitar informações sobre o projeto técnico da piscina e, depois disso, avaliar eventuais responsabilidades. O caso é investigado como homicídio culposo (sem intenção), mas a Polícia Civil não descarta classificar como dolo eventual.
“Não houve dolo, consciência, vontade de ter esse resultado, mas, na medida em que os fatos vão surgindo, surge, então, uma nova linha de um dolo eventual”.
Delegado Luiz Fernando Marucci, responsável pela investigações
Clausio Tavoloni/EPTV
Em nota, o resort reafirmou que “os ralos de todas as piscinas são antissucção e anti aprisionamento”, e que mantém “os protocolos e procedimentos de segurança sempre em operação”.
Sete minutos submersa
Segundo a Polícia Civil, a causa da morte foi mesmo o afogamento. Imagens de câmeras de segurança obtidas pelos investigadores com o resort confirmaram que a menina ficou submersa por cerca de sete minutos.
“Hoje nós podemos já dizer, com vistas nas imagens do acidente que foram disponibilizadas pelo hotel, que a criança ficou submersa mais de 7 minutos. E o laudo do IML traz o resultado da morte como afogamento mesmo”, disse Marucci.
Outros acidentes com o dispositivo
De acordo com o delegado, não foi o primeiro acidente envolvendo o dispositivo da piscina do resort. Um casal comunicou a Polícia Civil que no dia 13 de setembro a filha deles, de sete anos, também prendeu o cabelo no equipamento, mas conseguiu se livrar após ajuda do irmão.
Em depoimento, os pais disseram ter avisado o salva-vidas que estava na piscina no dia do incidente, que ocorreu 40 dias antes do afogamento da menina de nove anos.
“É óbvio que a gente vai apurar tudo isso, isso não é uma verdade absoluta. Nós vamos então ver se o hotel dispõe as imagens do dia 13 de setembro, quem são os salva-vidas que estavam trabalhando nesse dia 13 de setembro”.
Sobre isso, o resort informou que a administração do hotel não teve conhecimento de nenhuma ocorrência anterior à de novembro, “apenas recebeu mensagem de uma hóspede dias depois do acidente”, disse em nota.
Nota Royal
O hotel lamenta profundamente o acidente e tem colaborado com as investigações desde o primeiro momento.
O dispositivo do retorno da cascata, no qual aconteceu o acidente, foi desconectado e a cascata desligada de forma definitiva.
Não tivemos acesso ao laudo, mas continuamos à disposição das autoridades para qualquer esclarecimento.
A administração do hotel não teve conhecimento de nenhuma ocorrência anterior à de novembro, apenas recebeu mensagem de uma hóspede dias depois do acidente.
Reforçamos que os ralos de todas as piscinas são antissucção e anti aprisionamento e reiteramos nosso compromisso com a segurança e o bem-estar de nossos hóspedes, mantendo os protocolos e procedimentos de segurança sempre em operação.
Morte
A menina que se afogou na piscina do resort de luxo Royal Palm Plaza, em Campinas (SP), no dia 23 de novembro, morreu no hospital Mário Gattinho no dia 5 de dezembro, mesmo dia em que comemoraria o aniversário de 10 anos.
Em nota, o Royal Palm Plaza Resort informou que expressa sinceras condolências e solidariedade aos familiares da vítima. “Seguimos oferecendo o apoio e a assistência necessários à família, respeitando sua privacidade”, diz o texto.
A menina ficou sete minutos submersa após o cabelo dela prender no ralo da piscina, segundo o relato do pai à Polícia Civil. De acordo com o boletim de ocorrência, a criança foi resgatada por hóspedes do hotel e conduzida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) ao hospital.
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