Exportadores de açaí do Amapá buscam novas parcerias após tarifaço de Trump
Mais de 11 toneladas de açaí que seriam exportadas para os Estados Unidos da América (EUA) estão paradas no Amapá. A suspensão acontece após o governo norte-americano anunciar um tarifaço de 50% sobre o produto brasileiro, que entra em vigor nesta quarta-feira (6).
A carga incluía 10 toneladas de polpa e 1,5 tonelada de açaí em pó, ambas preparadas pela cooperativa AmazonBai, que reúne trabalhadores do Bailique, da região ‘Beira Amazonas’ e da Terra Indígena Wajãpi.
Mercadoria está parada no Amapá devido tarifaço de Trump
DIBB
A medida afeta diretamente produtores da região Norte, especialmente no arquipélago do Bailique, distrito de Macapá (AP).
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O arquipélago do Bailique, no leste do estado, é formado por oito ilhas. Cerca de 10 mil ribeirinhos vivem da colheita do fruto, que é um dos principais motores da economia local.
“A gente como produtor extrativista tinha uma perspectiva. A cooperativa foi um mecanismo que os produtores organizaram pra buscar mercados promissores. A venda no mercado local não trazia o retorno positivo que a gente esperava”, contou Aldemir Correa, extrativista da AmazonBai.
Extrativistas de açaí saem no prejuízo após tarifaço de trump
Carlos Cardozo/Rede Amazônica
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A polpa é vendida a US$ 5 o quilo. Já o açaí em pó, desidratado a vácuo e altamente concentrado, chega a US$ 60 o quilo.
A exportação do produto em pó começou em novembro de 2024. Desde então, quatro remessas foram enviadas.
Amiraldo Picanço, presidente da AmazonBai, explica que a quinta, prevista para julho, foi suspensa por causa da nova taxação. Desde então a produção está parada.
Segundo Amiraldo, a carga de polpa foi redirecionada para Portugal, mas o açaí em pó segue sem destino.
“Esse produto tem alto valor agregado e foi desenvolvido para atender mercados internacionais. Ainda é difícil inseri-lo no mercado nacional. Estamos buscando alternativas como Europa e Ásia”, explicou.
Amiraldo Picanço, presidente da Amazonbai
Michele Ferreira/Rede Amazônica
Pará, Amazonas e Amapá concentram quase toda a produção nacional de açaí. O setor emprega cerca de 300 mil pessoas, entre trabalhadores formais e informais.
“Vai ter impacto em toda a cadeia produtiva, desde o produtor que colhe na floresta até as indústrias que processam, armazenam e comercializam o açaí”, afirmou Amiraldo. “Isso afeta diretamente o Amapá e o Pará, onde o açaí é um dos principais produtos da economia local.”
📉 Perdas milionárias para o Amapá
O estado do Amapá, embora esteja entre os menos afetados pelo tarifaço, pode sofrer perdas de até R$ 36 milhões, segundo estimativas da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
O impacto é significativo para a economia local, especialmente porque a indústria de transformação representa 100% das exportações do estado para os Estados Unidos.
Entre os principais produtos exportados pelo Amapá estão sorvetes com cacau e frutas, incluindo o açaí. A nova tarifa já provocou a suspensão de remessas antes mesmo de sua entrada em vigor.
“Com essa taxação de 50%, eu deixo de ganhar metade. Se eu colho meia tonelada, só recebo como se fosse 250 quilos. No fim do exercício, em vez de R$ 15 mil ou R$ 20 mil, só vou ter R$ 10 mil. É uma perda de 50% da minha renda”, disse o produtor Aldemir.
Derivado de açaí produzido na AmazonBai
Jorge Júnior/Rede Amazônica
📜 Açaí fora da lista de exceções
Mesmo com a grande abrangência do tarifaço, pelo menos 700 produtos brasileiros foram poupados da nova tarifa extra de 40%, que se soma à já existente de 10%.
Entre os itens isentos estão: suco de laranja, combustíveis, veículos, aeronaves civis e madeira. No entanto, o açaí, o café e a carne bovina não estão na lista de exceções e serão taxados em 50%.
Uma das poucas flexibilizações é que produtos que já estavam em trânsito até a quarta-feira (6) não serão afetados pela nova tarifa. A exclusão do açaí da lista de exceções gerou críticas de produtores e autoridades brasileiras.
💸 Alimento de luxo nos EUA
Smoothie de açaí com morango vendido em loja da Oakberry em Nova York
Shannon Stapleton/Reuters
A tarifa pode transformar o açaí em um alimento de luxo no mercado americano. Atualmente, tigelas de açaí já são vendidas por até US$ 18 em redes como Playa Bowls e Oakberry, a tendência é que os preços subam ainda mais.
O açaí é considerado um ‘superalimento’ nos EUA e tem alta demanda, especialmente entre consumidores preocupados com saúde e bem-estar.
Nos últimos dez anos, a produção nacional de açaí cresceu de 150 mil para quase 2 milhões de toneladas.
Apesar disso, os produtores afirmam que não conseguem reduzir os preços o suficiente para compensar o impacto da tarifa, o que pode comprometer a presença do produto no mercado internacional.
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