
MISSÃO DE PAZ – FAB contribui para o desenvolvimento de Diretrizes Contra Drones em Missões de Paz
A Força Aérea Brasileira (FAB) participou do Counter Unmanned Aircraft Systems (C-UAS) Guidelines Writing Workshop, realizado entre os dias 5 e 11 de fevereiro de 2025 em Stans, na Suíça. O evento, promovido pelo Escritório de Assuntos Militares das Nações Unidas e apoiado pelo Governo Suíço, reuniu especialistas internacionais para o desenvolvimento de diretrizes voltadas ao emprego de capacidades de defesa contra Sistemas Aéreos Não Tripulados (C-UAS) em operações de paz.
O workshop contou com a participação de 16 representantes de Estados-Membros, incluindo militares de países como África do Sul, Camarões, Ruanda, Marrocos, Jordânia, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Sri Lanka, China, Paquistão, Reino Unido, França, Suíça e Brasil. O Brasil e a FAB foram representados pelo Deputy Chief UAS na Missão da ONU na República Centro-Africana (MINUSCA), Tenente-Coronel Aviador André Cardoso Moura e pelo Capitão de Infantaria Rodrigo Souza Sande, representante do Grupo de Segurança e Defesa de Brasília (GSD-BR). Ambos levaram contribuições valiosas, compartilhando a experiência da Força Aérea Brasileira em missões internacionais e no enfrentamento de novas ameaças, como os drones, no contexto das operações de paz da ONU.
O Capitão Rodrigo Sande contribuiu com o conhecimento adquirido no desenvolvimento da doutrina de emprego de Aeronaves Remotamente Pilotadas (ARP) pela Infantaria da Aeronáutica e na criação do Curso de Operador Militar de Aeronave Remotamente Pilotada (COMARP), do qual foi idealizador. Sua experiência foi crucial para a coordenação de sistemas C-UAS em ambientes complexos, como aeródromos, garantindo a integração com aeronaves tripuladas, controle de tráfego aéreo e segurança, expertise já dominada pela Infantaria da Aeronáutica. Além disso, contribuiu para a definição técnica e avaliação de desempenho de sistemas C-UAS, utilizando metodologias desenvolvidas no Curso de Especialização em Análise do Ambiente Eletromagnético (CEAAE) do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA).
“Minha participação no Workshop foi o ápice de um trabalho de mais de cinco anos no desenvolvimento doutrinário sobre Aeronaves Remotamente Pilotadas pelo Grupo de Segurança e Defesa de Canoas. A experiência adquirida, incluindo a realização do Curso de Operador Militar de Aeronaves Remotamente Pilotadas e a participação em operações como a CRUZEX 2024, nos trouxe um nível de maturidade que permitiu influenciar positivamente as diretrizes da ONU. Durante os debates, apresentei críticas construtivas sobre questões técnicas, alinhando as diretrizes com as definições da OACI (Organização da Aviação Civil Internacional) e abordando subsistemas do C-UAS, capacitação e manutenção. A participação da Infantaria da Aeronáutica vai acelerar nosso desenvolvimento doutrinário, absorvendo boas práticas de outros países. Nossa presença reafirma a importância do Brasil como formador de opinião nas missões de paz da ONU e na aviação mundial”, afirmou o Capitão.
A participação do Tenente-Coronel André Cardoso Moura também foi fundamental no evento, representando a MINUSCA e contribuindo para a formulação das diretrizes de defesa contra drones. Como Vice-Chefe da Célula de Drones, que lidera juntamente com um Tenente-Coronel norte-americano na República Centro-Africana, ele compartilhou a experiência adquirida na função, apresentou dados estatísticos da MINUSCA e dos esforços da missão e sugeriu elementos para a criação da base legal das novas diretrizes. A MINUSCA, que registra o segundo maior número de incursões de reconhecimento e ataques de drones contra bases da ONU e forças aliadas, destaca a crescente ameaça desses sistemas no contexto das operações de paz.
O Tenente-Coronel Moura destacou que a MINUSCA enfrenta o desafio crescente do uso de drones não identificados, que sobrevoam a missão semanalmente, representando riscos à segurança das tropas. Para lidar com isso, foram apresentadas sugestões para a criação de diretrizes C-UAS em conformidade com o Direito Internacional Humanitário e regulamentações da ICAO, além de considerar aspectos éticos e operacionais. A implementação de medidas passivas e ativas de defesa, como camuflagem, radares especializados e interferência de radiofrequência, é fundamental para mitigar esses riscos. Além disso, a colaboração internacional e o intercâmbio de experiências têm fortalecido as estratégias de defesa contra drones, contribuindo para o aprimoramento das capacidades da Força Aérea Brasileira.
“Como ponto focal da MINUSCA, minha missão foi contribuir com conhecimento técnico e buscar soluções eficientes para mitigar a ameaça dos drones. Propus um plano estruturado que envolve a aquisição e implementação de sistemas C-UAS, respeitando as diretrizes legais e assegurando a proteção das tropas e civis. Esse processo inclui a colaboração com os países anfitriões e a avaliação constante de riscos. O principal objetivo é proteger nosso efetivo, sem comprometer a soberania nacional, e garantir que a missão continue cumprindo seu papel de estabilização e proteção de civis”, destacou o Oficial.
O workshop contou com uma série de discussões e apresentações sobre as ameaças representadas por drones em operações de paz, abordando cenários de risco, modelos de resposta e a estrutura de defesa contra UAS (C-UAS). Também foram debatidos a integração dessas capacidades com sistemas existentes, a padronização dos relatórios operacionais e os aspectos legais e éticos do uso dessas tecnologias. Além disso, questões logísticas, treinamento e avaliação de desempenho das soluções C-UAS também foram abordadas. Durante o evento, os participantes revisaram documentos preliminares, participaram de discussões em grupos temáticos e contribuíram para a redação final das diretrizes.
Fotos: FAB