À esquerda, Guilherme Pereira, e no lado direito da imagem, Ana Luiza
TV Cabo Branco
A promotora do Ministério Público da Paraíba (MPPB), Ismânia do Nascimento, viu indícios de homicídio no caso do policial militar Tiago de Almeida Filho, suspeito de balear o jovem Guilherme Pereira, morto junto com a namorada Ana Luíza, após bater a moto em que estava em um poste no bairro do Muçumagro. O g1 teve acesso ao documento em que a promotora analisa o processo.
No documento, apesar da promotora entender que há indícios de homicídio, ela não ofereceu a denuncia junto à Justiça, isso porque entende que quem deve fazer isso é o promotor que atua junto ao Tribunal do Júri.
A promotora cita a própria perícia realizada nos corpos dos jovens, assim como no capacete que Guilherme Pereira estava usando no dia da batida no poste, como indícios para o cometimento do crime. Segundo ela, baseada em testemunhos e no depoimento do pai de Ana Luiza, Joselito Pereira, “há indícios suficientes de que a conduta do indiciado se configura como crime doloso contra a vida”.
O g1 entrou em contato com a defesa de Tiago de Almeida Filho, que não respondeu sobre a transferência do processo para outro promotor.
A Corregedoria da Polícia Militar afirmou, na época em que o laudo foi revelado, que está tranquila em demonstrar isenção e imparcialidade. Também declarou que abriu uma investigação preliminar sobre o caso.
Segundo a Corregedoria, foi orientado ao comando da região que fizesse a transferência do PM indiciado do setor operacional para a área administrativa. Também informou que, se outros policiais militares estiverem envolvidos, o caso será apurado. O órgão ainda não se pronunciou após a denúncia do MP.
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O laudo que indicou o tiro e o indiciamento do policial militar
Em julho, o g1 teve acesso com exclusividade a um laudo feito pela perícia que mostra que Guilherme Pereira foi atingido com um tiro antes de bater a moto em que pilotava e que tinha a namorada na garupa.
O laudo, assinado por três peritos do Instituto de Polícia Científica da Paraíba (IPC), aponta que o cadáver de Guilherme apresenta perfuração transfixante no crânio resultante de tiro de arma de fogo, ou seja, o jovem foi atingido com um tiro na cabeça. O documento constatou que a bala entrou pelo lado esquerdo da cabeça da vítima e saiu no lado direito.
Para chegar na conclusão do laudo, os peritos analisaram não somente o corpo do jovem, mas também fizeram análises no capacete utilizado por Guilherme enquanto pilotava a moto. Nessas análises, conforme o documento, houve a constatação de que o capacete também foi perfurado pelo projétil.
Relatório da Polícia Civil mostra marcas compatíveis com perfuração por projétil de arma de fogo no capacete da vítima
Reprodução
O outro documento que o g1 teve acesso trata-se de um relatório da Polícia Civil, assinado pela delegada Luísa Correia, que indiciou o policial militar pois considerou que a munição que atingiu o jovem era “similiar a utilizada em fuzis” da PMPB.
No mesmo documento de indiciamento, foi informado que policiais militares que participaram da ronda que seguiu a moto dos jovens em novembro de 2024 tiveram pedido protocolado junto ao Comando da Polícia Militar para verificação das armas utilizadas naquele dia. Dois dos policiais disseram, em depoimento para a polícia, que portavam fuzis durante a ação. O documento diz que “o policial efetuou o disparo de arma de fogo que atingiu o jovem na cabeça e provocou a colisão da moto”.
O depoimento dos policiais militares foi colhido pela Polícia Civil e todos os agentes negaram, nos autos, terem atirado contra o jovem, inclusive o que foi indiciado.
O policial militar foi indiciado por duplo homicídio qualificado consumado contra os dois jovens.
Em relação ao laudo de Ana Luiza, a outra jovem que morreu com o acidente, o laudo que a reportagem teve acesso constatou que uma pancada forte na cabeça foi a causa da morte. Conforme o documento, “nenhum elemento de munição ou fragmentos de munição” foram encontrados no corpo da mulher.
A exumação dos corpos e a versão da família
Os corpos dos jovens foram exumados em julho, após pedido do pai do jovem, que alega que o casal foi morto a tiros, e responsabiliza policiais militares. Esse caso, que antes era investigado pela Delegacia de Crimes de Trânsito da capital, foi transferido e reaberto para ser investigado pela Delegacia de Homicídios.
Os jovens foram enterrados novamente após a exumação em 17 de julho, no cemitério Nossa Senhora da Boa Morte, em Bayeux.
O pai de Ana Luiza, que estava na garupa quando houve a batida em um poste, Joselito Pereira, afirmou que os jovens foram mortos a tiros e que os disparos foram feitos por policiais militares. Conforme relato do pai, ele solicitou um laudo pericial particular para constatar a causa da morte e, neste laudo, houve o apontamento de que tiros haviam perfurado os corpos dos jovens e que isso causou as mortes. Joselito disse que esse laudo e outros indícios foram estão com a Polícia Civil.
Relembre o caso
Imagens de circuito de segurança mostram momento em que moto atinge poste
TV Cabo Branco/Reprodução
Os dois jovens morreram na madrugada do dia 30 de novembro de 2024, no bairro Muçumagro, em João Pessoa.
Segundo informações repassadas pela PM à TV Cabo Branco, as equipes policiais foram informadas durante a madrugada sobre uma festa ilegal que estaria acontecendo na região da Praia do Sol. Quando as equipes estavam nesse deslocamento para fazer o patrulhamento, se depararam com três motocicletas em alta velocidade.
Ainda conforme o relato da PM à época, os agentes ainda conseguiram parar uma dessas motocicletas, abordou um desses casais. Cada moto tinha um casal. Só que as outras duas motos seguiram, uma foi pela contramão e a outra foi por cima da calçada, que foi nesse momento que o piloto acabou perdendo o controle e batendo com poste.
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado, mas não houve tempo para socorro. Os dois jovens acabaram morrendo na hora.
Exumação dos corpos de Guilherme e Ana Luiza reacende suspeita de crime
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