Empresas do ramo relatam aumento de 90% na procura e tem lista de espera para atender novos clientes. “Tivemos um aumento de 90% em pedidos de orçamento para construir bunkers”, diz CEO da empresa Bunker Vip
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Assim como fizeram os países nórdicos recentemente, agora o governo espanhol está preparando um guia com conselhos para a população sobre o que fazer em caso de guerra. O projeto que ainda não tem data para ser lançado faz parte da 2ª Estratégia Nacional de Proteção Civil do país.
Segundo informações do Ministério do Interior da Espanha, o material vai contar com instruções sobre como os moradores deveriam proceder em caso de um conflito bélico ou ao ter contato com substâncias químicas, biológicas, nucleares ou radioativas.
Com o atual aumento da instabilidade geopolítica e da ameaça de ataques com armas de destruição em massa, parte da população espanhola está querendo se prevenir e se proteger caso a guerra entre Rússia e Ucrânia cruze fronteiras ou a situação no Oriente Médio fique pior.
“Tivemos um aumento de 90% em pedidos de orçamento para construir bunkers aqui na Espanha. Atualmente recebo cerca de 20 consultas diariamente”, diz Fernando Diaz Llorente, CEO da empresa Bunker Vip.
O empresário acredita que essa demanda está aumentando por conta das notícias. “A população está levando isso mais a sério e o povo acredita que existe uma ameaça real de que a guerra possa se espalhar”.
Outras empresas espanholas do ramo também sentiram esse aumento. “A nossa demanda simplesmente triplicou nos últimos meses. Antes as pessoas pediam orçamento e tiravam um tempo para pensar se queriam ou não, agora muita gente já liga diretamente fazendo o pedido”, revela Guillermo Ortega, proprietário da Bunker World.
O empresário diz que um bunker como os que eles produzem, que são pré-fabricados, demora cerca de 75 dias para ficar pronto, e que pelo atual aumento na demanda eles já estão com lista de espera para atender novos clientes. “Estou recebendo pedidos até mesmo da França, muitos da Alemanha e tive consultas até de pessoas da Colômbia”, compartilha.
A opção de ter um bunker particular não é para todo mundo, já que a construção de um abrigo subterrâneo tem um custo elevado. Na Bunker World, um refúgio de 15 metros quadrados para até seis pessoas com um banheiro, custa cerca de 60 mil euros (cerca de R$ 380 mil). Nesse valor estão incluídos também uma antessala de descontaminação e um sistema de filtragem do ar que elimina os gases tóxicos.
“Agora mesmo estamos construindo dois refúgios de meio milhão de euros (R$ 3,2 milhões) em Barcelona. As pessoas estão mais conscientes da instabilidade global que estamos vivendo. Além disso, a população não está só com medo de uma emergência bélica. Alguns querem construir bunkers caso aconteça outra pandemia”, esclarece Llorente.
Refúgios coletivos
Atualmente a Espanha conta com poucos refúgios públicos para a população — em Madri há somente três. O maior de todos fica na base aérea militar de Torrejón de Ardoz e tem capacidade para proteger até 600 pessoas.
No parque El Capricho um refúgio que foi construído durante a Guerra Civil espanhola, em 1937, tem dois mil metros quadrados, 15 metros de profundidade e pode acolher até 200 pessoas, mas atualmente está desativado.
O terceiro fica no Palácio da Moncloa, sede do Governo espanhol. Esse bunker foi projetado para resistir ataques nucleares e químicos e tem mais de sete mil metros quadrados.
De olho nesse filão, em um futuro que não está muito longe de virar realidade, quem não tiver espaço ou dinheiro para construir um bunker particular em seu terreno vai poder usar um refúgio coletivo em algumas cidades espanholas. Llorente conta que atualmente a sua empresa tem um projeto de construir abrigos coletivos particulares para que várias famílias possam se proteger simultaneamente.
“A ideia é que um grupo de pessoas possa alugar o espaço e ter acesso durante 25 anos, em caso de uma emergência bélica, a um quarto com banheiro dentro de um bunker. O custo desse serviço seria de aproximadamente 40 mil euros (R$ 250 mil)”, explica.
A realidade espanhola é bem diferente da suíça. Nesse país esse tipo de proteção é lei. Em 1963, a Suíça adotou uma política que exigia que todos os seus cidadãos tivessem acesso a um abrigo subterrâneo. Durante muitos anos essa foi parte da estratégia de proteção civil desse país europeu, que atualmente conta com refúgios suficientes para abrigar até nove milhões de habitantes.
Brasileiros estão tranquilos
Se por um lado alguns espanhóis estão pensando em construir bunkers para se proteger, brasileiros que moram na Espanha não acreditam que a guerra possa chegar até o país ibérico.
“Geopoliticamente falando, vivemos um momento delicado. O receio existe, sempre imagino o (Vladimir) Putin (presidente da Rússia) com o dedo no botão prestes a dar início a um ataque nuclear, mas no dia a dia esse receio não é palpável. Vamos tocando a vida. Mesmo em uma situação em que a Espanha entrasse em guerra, não cogitaria voltar ao Brasil, pois meu marido é espanhol. Caso não fosse casada, voltaria sim”, explica a jornalista e tradutora brasileira Alessandra Ribeiro, que vive em Madri há oito anos.
Alexandre Muscalu, historiador e guia de turismo, não acredita por enquanto que a guerra entre a Rússia e a Ucrânia possa escalar e chegar até a Espanha. “Eu me preocupo mais com a minha segurança econômica do que com a física. Minha maior preocupação é se eu chegasse a perder a maneira de ganhar dinheiro aqui para pagar as minhas contas. Se eu morasse no Reino Unido ou na Polônia, por exemplo, teria receio e faria de tudo para ir embora, mas aqui na Espanha não”, conta o paulista que também mora em Madri.
Quem também acha que a região não será afetada diretamente é Simone Henrique Pirani, que vive na capital espanhola há quatro anos. “Sou do time das muito otimistas. Confesso que hoje não me preocupo com isso. Não acho que vá chegar até aqui. Além disso, estou procurando consumir menos notícias preocupantes. Porém, se a guerra realmente atingisse a Espanha ou acontecesse algo grave, eu e a minha família voltaríamos correndo para o Brasil”, compartilha a paulista.