Terceiro filme estrelado pelo urso de bom coração tem como destaque as participações de Olivia Colman e Antonio Banderas. Bruno Gagliasso volta a dublar o protagonista criado através de bons efeitos visuais “Paddington: Uma aventura na floresta”, que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (23), é a terceira adaptação do personagem criado por Michael Bond, que ganhou muita popularidade principalmente depois do segundo filme da série, de 2017. O novo longa tem maior “responsabilidade” de ser, pelo menos, do mesmo nível da produção anterior — o que ele conseguiu, em parte.
A nova aventura conquista pontos por ser tão fofa (e às vezes boba) quanto os outros filmes. Tem também bons efeitos visuais e um elenco que se mostra bastante coeso, sem maiores falhas. Mas não envolve como os outros títulos da franquia. Ainda assim, pode agradar aos fãs menos exigentes do ursinho de chapéu vermelho, especialmente as crianças.
Assista ao trailer do filme “Paddington: Uma aventura na floresta”
Na trama, Paddington (duplado por Ben Wishaw na versão original, e Bruno Gagliasso em português) vive tranquilamente com a família Brown, em Londres, quando recebe uma carta enviada por Reverenda Madre (Olivia Colman), do Lar dos Ursos Aposentados, que fica no Peru. Ele descobre que sua tia Lucy, que morava no local, desapareceu misteriosamente. A única pista de seu paradeiro é uma indicação misteriosa num mapa da Amazônia Peruana.
Disposto a encontrá-la, Paddington embarca para o Peru, ao lado de Henry Brown (Hugh Bonneville), sua esposa Mary (Emily Mortimer), seus filhos Judy (Madeleine Harris) e Jonathan (Samuel Joslin), além da vovó Bird (Julie Walters).
Juntos, eles tentam descobrir o paradeiro da tia Lucy enquanto lidam com vários problemas, como o ambíguo Hunter Cabot (Antonio Banderas), que acredita que Paddington possa levá-lo a El Dorado, a cidade perdida do ouro, procurada por ele há anos.
Muita ação e pouco riso
“Paddington: Uma aventura na floresta” é uma típica “Sessão da Tarde” e funciona como uma diversão inofensiva que alegra principalmente o público infantil. Isso acontece graças ao carisma do ursinho protagonista de bom coração, criado por ótimos efeitos visuais que o deixam incrivelmente realista e muito expressivo.
Só o olhar doce que ele mostra em diversos closes da câmera já é suficiente para derreter até os corações mais gelados. Além dele, os outros ursos e animais que aparecem no filme são bastante convincentes e ajudam a criar um clima de fantasia bem interessante.
Olivia Colman interpreta uma freira que cuida de ursos aposentados em ‘Paddington: Uma aventura na floresta’
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Porém, mesmo com tanta fofura, o filme perde pontos no quesito encantamento. A história não é ruim, mas ao contrário de “Paddington 2”, ela pode não envolver tanto o espectador, por seu humor. Algumas piadas não geram mais do que sorrisos amarelos.
Além disso, há passagens que poderiam ser mais emocionantes, sobretudo na parte final do filme. Mas ficam ligeiramente mornas e não comovem tanto quanto o segundo longa da série.
Um dos motivos para essa mudança foi a troca na direção. O cineasta Paul King, que realizou os dois primeiros filmes, deixou a cadeira de diretor para o estreante Dougal Wilson. King preferiu assumir outros projetos, como o bem-sucedido “Wonka”, e ficou apenas creditado como um dos autores do argumento e um dos produtores executivos.
Wilson, embora mostre competência em seu primeiro trabalho para o cinema, em especial nas cenas de ação, como uma sequência em que Paddington e sua família enfrentam uma viagem rio abaixo num barco descontrolado, não conta a história de forma singela. Quem sabe ele consiga em projetos futuros.
Paddington e sua família se veem em perigo em ‘Paddington: Uma aventura na floresta’
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O roteiro escrito a seis mãos também não acerta muito. Lá no meio da história, há cenas cansativas que se arrastam e não trazem nada que possa empolgar. É uma pena, já que uma das boas características de “As aventuras de Paddington” e “Paddington 2” é o ritmo.
O texto também não desenvolve alguns tópicos, como a síndrome do ninho vazio, que a matriarca dos Brown tem quando Paddington e seus filhos procuram novos caminhos para viver, ou até mesmo o etarismo, já que o patriarca é cobrado por uma executiva (numa quase ponta de Hayley Atwell, de “Missão: Impossível – Acerto de Contas”) a ser mais audacioso, como se estivesse ultrapassado.
Claro que, num filme infantil, não dá para ser algo tão profundo. Mas poderiam trabalhar melhor esses temas de forma mais criativa e não tão clichê.
Paddington volta ao Peru para encontrar sua tia em ‘Paddington: Uma aventura na floresta’
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Um ursinho muito carinhoso
Mesmo com todas essas questões, “Paddington: Uma aventura na floresta” ainda é um filme bem divertido e gostoso de assistir.
Um dos destaques positivos do longa está na escolha das locações. A produção ocorreu na Inglaterra, na Colômbia e, é claro, no Peru, que aparece no clímax da história, que se passa nas cidades de Cuzco e nas ruínas de Machu Picchu. A fotografia ressalta as belezas dos países latinos, em contraste com a frieza da capital inglesa, ainda que todos os lugares preservem um visual fantástico.
O elenco também mostra entrosamento, tanto entre os já conhecidos da franquia Hugh Bonneville, Emily Mortimer e Julie Walters, quanto aos “novatos” Olivia Colman e Antonio Banderas. A vencedora do Oscar por “A Favorita” diverte como uma freira excêntrica, com direito a número musical (que só não rende mais porque a edição não funciona muito bem).
Já o astro espanhol encara bem a galhofa de seu personagem, que vive assombrado por seus antepassados (todos vividos por Banderas, com caracterizações divertidas) para chegar a El Dorado, e alterna momentos de patetice com os de ameaça. Não chega à perfeição do vilão vivido por Hugh Grant em “Paddington 2”, mas não incomoda.
Vale destacar também a pouco conhecida Carla Tous, que interpreta a filha do personagem de Banderas, que busca colocar um pouco de juízo na cabeça do pai.
Antonio Banderas interpreta o misterioso Hunter Cabot em ‘Paddington: uma aventura na floresta’
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Mas o grande astro é mesmo o personagem-título, que conquista tudo e todos com seu jeito carinhoso de ser. O ator Bruno Gagliasso, que já tinha dublado Paddington no filme anterior, se sai bem novamente e transmite a emoção necessária para convencer no papel.
Como o ursinho tem muitos fãs, é bem provável que ele voltará a ser visto numa tela grande. Ainda há muitas histórias que podem ser contadas sobre o bicho, e certamente o público quer ver. Principalmente se forem tão gostosas quanto um sanduíche de marmelada, o favorito deste urso tão querido.
Um aviso: Não saia dos cinemas antes do final dos créditos. Tem duas cenas que valem a pena conferir.
Cartela resenha crítica g1
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