Julie antes do ataque (à esq.) e momentos depois de ter sido atacada pelo pit bull (à dir.)
Arquivo Pessoal
Uma cadela da raça poodle toy, de cinco anos, morreu após ser atacada, junto à tutora, por um pit bull conduzido sem focinheira e sem guia adequada por um funcionário de um pet shop em Praia Grande, no litoral de São Paulo.
O caso ocorreu na Rua Josefa Alves de Siqueira, no bairro Anhanguera, por volta das 13h30 de 23 de agosto. Conforme apurado pelo g1, a cadela chamada Julie tinha um agendamento de banho e tosa no estabelecimento, quando foi atacada no estacionamento que dá acesso ao comércio.
O g1 entrou em contato com a Larrosa Pet Shop, que informou que sempre esteve e está à disposição da cliente para resolver o caso.
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Segundo a tutora de Julie, que preferiu não ser identificada, o ataque ocorreu quando o pit bull estava sendo levado ao veículo da empresa para ser devolvido ao tutor após tomar banho. De acordo com o relato, o cão avançou assim que viu a cadela.
A tutora afirmou que Julie estava no colo quando foi puxada pelo rabo pelo outro animal, fazendo com que as duas caíssem no chão. Ela disse que o funcionário do pet shop não conseguiu controlar o cão.
A mulher disse que, após o ataque, um grupo de pessoas conseguiu segurar o pit bull. Ela pegou Julie, que estava caída e ensanguentada, e correu até o pet shop em busca de atendimento veterinário. O profissional prestou os primeiros socorros à cachorrinha.
“Nós fomos atacadas, ficamos feridas. Eu machuquei muito os meus joelhos, meus pés, minhas mãos e meu braço com a queda e minha cachorrinha, a princípio, ficou machucada na pata dianteira, uma laceração bem grande”, disse.
Pet shop
Segundo a tutora, a única ajuda oferecida pelo estabelecimento foi o atendimento veterinário. De acordo com ela, o profissional pediu para que Julie permanecesse um tempo em observação para verificar se prosseguiria ou não com o banho e tosa, que seguia agendado.
Como a tutora estava com as pernas e pés ensanguentados, deixou Julie com o veterinário e foi ao pronto-socorro.
“Depois do ataque, assim que o veterinário atendeu ela, eu fui procurar ajuda para mim. Sai de lá dirigindo sozinha para procurar ajuda”, disse. Quando voltou ao pet shop, o profissional entregou Julie e disse que estava tudo bem, sendo apenas um machucado na pata, mas já com curativo.
De acordo com a tutora, o veterinário do pet shop receitou dois medicamentos para Julie que, inclusive, foram comprados no estabelecimento. O local era frequentado por ela há mais de 20 anos, uma vez que já teve outros animais de estimação e atualmente tem outros três cachorros.
Julie (à esq.) e tutora (à dir.) após serem atacadas por pit bull conduzido por funcionário de pet shop sem focinheira, em Praia Grande (SP)
Arquivo Pessoal
Morte de Julie
No mesmo dia, a tutora percebeu que Julie estava assustada, mancando e mais quieta do que o normal. No entanto, a partir do dia 25 de agosto, ela notou uma mudança ainda maior no comportamento da cadela.
A tutora levou Julie para outra clínica veterinária e, segundo ela, foi constatado que o animal estava com o rim, fígado, baço e pâncreas machucados. A cachorrinha precisou passar por uma cirurgia para retirada de um dos rins no dia 29.
Apesar do procedimento, a tutora contou que Julie não resistiu aos ferimentos e morreu na manhã do dia 30 – uma semana após o ataque. No dia seguinte, ela comunicou o caso ao pet shop, que disse que sentia muito pela perda.
“O que eu respondi é que eu fico com a minha perda e eles ficam com a culpa. A Julie era uma poodle toy de 5 anos. Eu já estava com ela esse tempo […] ela estava na rua, o abrigo resgatou e peguei ela. Desde então ela era minha companheira”, desabafou a mulher.
Ela disse que recebeu um contato do dono do pet shop na última segunda-feira (1°). Na ocasião, ele teria pedido desculpas pelo ocorrido e dito que o pit bull era dócil. “Cobrei o uso da focinheira e ele disse que o tutor não gosta que use. Ele priorizou o atendimento a um cliente, a um cachorro e não pensou nos demais”.
Professora contou que, dias após o ataque, Julie ficou sem os movimentos das patas trazeiras, urina e fezes
Arquivo Pessoal
Medidas cabíveis
A tutora disse que pretende registrar um boletim de ocorrência e buscar outras medidas cabíveis. “Que nunca mais alguém tenha que sofrer por ataques de animais de grande porte, que também são indefesos. O erro aqui é dos humanos e não do animal, ele age por instinto. Há uma lei que protege as pessoas e outros animais”, disse.
Ela lamentou que perdeu Julie, mas frisou que isso teria sido evitado com o uso da focinheira. “A gente ficaria com o susto, de repente teria até nos derrubado, mas não teria machucado, ela teria muitos anos pela frente. Ela era uma animal muito amado e está fazendo muita falta na nossa vida”.
Cachorro morre horas após banho e tosa em pet shop no litoral de SP
O que diz a Lei? ⚖️
O advogado Fabrício Posocco explicou que a Lei nº 11.531 de São Paulo, promulgada em 11 de novembro de 2003, tem o objetivo de estabelecer regras de segurança para a posse e condução responsável de cães, entre elas:
Raças específicas: A lei menciona especificamente as raças pit bull, rottweiller e “mastim napolitano”, além de outras que podem ser especificadas em regulamento;
Uso de coleira e guia: Os cães dessas raças devem ser conduzidos em vias públicas com coleira e guia de condução;
Guia curta, enforcador e focinheira: O regulamento pode definir raças que precisam usar guia curta de condução, enforcador e focinheira;
Segurança: Os proprietários ou possuidores de cães devem mantê-los em condições adequadas de segurança para evitar evasão.
Multas: A infração à lei pode resultar em multa de 10 UFESPs, equivalente a R$ 370,20, que pode ser dobrada em caso de reincidência.
Segundo o advogado, a lei visa garantir a segurança pública e prevenir acidentes envolvendo cães potencialmente perigosos. Para ele, tanto o pet shop quanto o tutor do pit bull podem ser responsabilizados pelo ocorrido, não apenas pela regulamentação estadual, mas também pelo Código Civil (CC) e Código de Defesa do Consumidor (CDC).
“Ela [tutora da Julie e vítima] tem direito a indenização e reparação por danos materiais e morais”, finalizou Posocco.
Relembre outro caso
Uma cachorra foi amarrada em um bicicletário e abandonada em frente a um pet shop em Praia Grande. Uma câmera de monitoramento flagrou o momento em que uma mulher deixou o animal no local (veja o vídeo abaixo). Pandora, como passou a ser chamada, foi acolhida pelos proprietários do estabelecimento e adotada.
Cadela abandonada em frente a petshop foi adotada por funcionária no litoral de SP
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