Medida divide o governo e setores do turismo. Proposta segue para discussão na Câmara dos Deputados. O Senado Federal aprovou nesta quarta-feira (19) a revogação do decreto legislativo que obrigaria a cobrança de visto para cidadãos dos Estados Unidos, Canadá e Austrália.
A votação foi simbólica e o texto segue para a deliberação da Câmara dos Deputados.
A proposta busca desfazer o decreto assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em maio de 2023 que revogava outro decreto do ex-presidente Jair Bolsonaro, que beneficiou a população desses países.
O autor é o senador Carlos Portinho (PL-RJ). E Flávio Bolsonaro (PL-RJ) foi escolhido por Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) para relatar o texto.
O Senado avaliou a proposta com urgência, sem ter tramitado antes por qualquer comissão da casa, porque o decreto em vigência começa a valer a partir de 10 de abril, quando os países serão obrigados a emitir um visto eletrônico, a um custo de US$ 80,90.
No plenário, a proposta foi alvo de críticas por parte de senadores ligados ao governo por entenderem que a reciprocidade é importante para trazer à mesa de negociação os países que cobram visto do Brasil.
“Eu só quero lembrar que o Brasil adotou a reciprocidade. O Japão, quando nós falamos de reciprocidade, veio à mesa de negociação – para nós, é uma vantagem para os brasileiros – e tirou a obrigatoriedade de os brasileiros terem visto para ir ao Japão”, afirmou o líder do governo, Jaques Wagner (PT-BA).
Por outro lado, o relator ponderou que o fim da exigência de visto para entrada no Brasil possibilitou um aumento no número de turistas visitando o país.
“Esse crescimento gerou empregos, fortaleceu pequenos negócios e aproximou o país da meta de 8,1 milhões de turistas estrangeiros ao ano até 2027, conforme previsto no Plano Nacional de Turismo”, afirmou Bolsonaro.
Wagner ainda lembrou que recentemente o Senado aprovou uma medida de reciprocidade que busca retaliar os países que taxarem produtos brasileiros, sobretudo do agronegócio.
“Votamos a reciprocidade em relação aos países que querem retaliar os nossos produtos. E a gente acha normal essa reciprocidade porque, se alguém quer impedir que os nossos produtos saiam, nós aqui também temos que nos defender”, finalizou.
Críticas
Para os assessores parlamentares do Itamaraty, a manutenção da medida era vista como um ato de reciprocidade já que esses países continuaram a cobrar visto dos brasileiros que buscam visitá-los.
“A retomada da exigência de vistos de visita para cidadãos dos países indicados restabeleceu os princípios da reciprocidade e da igualdade de tratamento, alicerces da política migratória brasileira”, afirmam os técnicos em nota encaminhada por aplicativo de mensagens a gabinetes de senadores.
O governo Bolsonaro, quando editou a proposta, acreditou que a medida seria uma forma de estreitar laços e incentivar o aumento do turismo. Entretanto, os técnicos do Itamaraty apontam que os dados relacionados a migração de estrangeiros se manteve estável durante o período.
“Número de visitantes não cresceu como se esperava: De acordo com dados obtidos da Polícia Federal, em 2019, ano em que foi adotada a isenção unilateral de vistos, o percentual de nacionais da Austrália, do Canadá, dos Estados Unidos e do Japão sobre o total de visitantes estrangeiros ao Brasil era de 8,8%. Em 2024, esse percentual manteve-se no mesmo patamar: 8,4%”, justificaram.
Apoio à proposta
Um grupo de entidades do setor, denominada G20 do Turismo, divulgou uma nota apoiando o projeto que busca revogar o decreto do presidente Lula.
Contrariando os dados do Itamaraty, o grupo cita dados da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur) que apontam que o fluxo de turistas desses países aumentou desde que os vistos deixaram de ser cobrados.
“Em 2022, o país recebeu 441 mil turistas dessas nacionalidades. Com a isenção de vistos, esse número saltou para 668 mil em 2023 e atingiu 728 mil em 2024, representando um aumento de aproximadamente 8%”, justificou o grupo.
Além disso, a associação aponta que a volta da exigência pode representar um “risco” de retração do setor no país.
“A retomada da isenção de vistos se alinha a uma política de fomento ao turismo, capaz de impulsionar o crescimento econômico e a atração de visitantes internacionais”, afirmou em nota.
Por fim, o grupo rebate o critério de “reciprocidade” utilizado pelo Itamaraty justificando que o turismo tem um peso grande na economia brasileira e que isso está acima de uma decisão exclusivamente política.
“Ao contrário dos EUA e Canadá, que não dependem do fluxo de turistas brasileiros, o Brasil pode perder bilhões em arrecadação ao dificultar a entrada de visitantes estrangeiros”, disse a associação.