Industria fica em alerta na véspera de início do tarifaço americano
Mesmo com baixa dependência do mercado dos Estados Unidos, as indústrias do Amazonas acompanham com atenção o impacto do aumento de 50% nas tarifas sobre produtos brasileiros exportados ao país americano. A medida, que entra em vigor na próxima quarta-feira (6), pode afetar diretamente segmentos como o de motocicletas e o de termoplásticos, importantes para o Polo Industrial de Manaus (PIM).
Assinada por Donald Trump e justificada como ação de segurança nacional, o “tarifaço” deve encarecer produtos brasileiros no mercado americano, especialmente dos setores de café, carne, frutas, calçados, móveis e têxteis.
Por outro lado, cerca de 700 itens foram poupados, incluindo produtos dos setores aeronáutico, energético, de mineração e parte do agronegócio, como suco de laranja e castanha-do-brasil.
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Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), em 2024, o Amazonas exportou cerca de US$ 99,8 milhões em produtos para os EUA, valor que representa 10,3% das exportações do estado. Apesar disso, o tarifaço deve impactar apenas 0,15% do faturamento total do PIM, já que apenas 1,5% da produção da Zona Franca de Manaus é destinada à exportação.
Ainda assim, a CNI aponta que a medida pode provocar uma retração de R$ 1,145 bilhão no PIB do Amazonas, o equivalente a uma queda de 0,67% na economia estadual.
Três dos seis principais produtos exportados pelo Amazonas estão na lista dos que sofrerão a nova taxação: motocicletas, máquinas e aparelhos de escritório e rodas dentadas.
“O impacto do tarifaço, se vier a ocorrer, no produto interno brasileiro deve oscilar em torno de 0,3 a 0,5% do PIB”, avaliou o economista Afonso Lobo.
Para a Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam) a dependência do mercado americano é pequena, o que limita os danos diretos. No entanto, há outras preocupações.
De acordo com análise do Centro da Indústria do Estado (Cieam), um eventual endurecimento nas relações comerciais pode também afetar as importações, especialmente de insumos essenciais para o funcionamento das fábricas locais.
No ano passado, a Zona Franca de Manaus importou mais de US$ 16 bilhões em produtos, sendo que US$ 1,4 bilhão desses vindos dos Estados Unidos, o que representa 8,7% do total de importações. Um dos segmentos que pode sentir os efeitos de mudanças tarifárias é o termoplástico. Somente em 2024, o setor importou cerca de US$ 600 milhões em polímeros, matéria-prima essencial para sua cadeia produtiva.
“Existe fornecimento desses insumos em outros mercados, mas reorganizar essa cadeia produtiva leva tempo. Não é algo imediato”, alertou o presidente executivo do Cieam, Lúcio Flávio.
Outro possível reflexo está na redução do consumo nacional, caso outros estados sejam mais fortemente atingidos pela medida. Segundo o Cieam, uma retração no consumo pode gerar um efeito em cadeia, afetando também as vendas internas das indústrias do Amazonas.
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Apesar do cenário de incerteza, o momento também é visto como uma oportunidade estratégica para o PIM. Com a reconfiguração do comércio internacional, a Zona Franca de Manaus pode se tornar ainda mais atrativa para empresas que buscam acesso ao mercado americano com menores custos logísticos.
“Indústrias estão avaliando a possibilidade de se instalar na Zona Franca de Manaus justamente para manter acesso ao comércio americano, em meio a esse novo cenário global”, afirmou Lúcio Flávio.
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