Famosa junção entre a sanfona, o triângulo e a zabumba foi feita pelo Rei do Baião, Luiz Gonzaga. Luiz Gonzaga na capa de álbum de 1968
Reprodução / capa de LP de 1968
Lá no meu pé de serra, deixei ficar meu coração. Ai que saudades tenho, eu vou voltar pro meu Sertão.🪗 O ritmo não define, mas identifica. Acolhe. No Nordeste, o forró embala quem está ou quem passa pela região. E apesar de hoje ser tocado com bateria, metais e teclados, o início do estilo foi bastante diferente.
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Antes disso tudo, o forró era tocado apenas com uma sanfona e letras cheias de saudades de casa, retratando o cotidiano do sertanejo nordestino. Ele só ganhou mais ritmo depois que o mestre do baião, Luiz Gonzaga, fez um casamento improvável, unindo os acordes da sanfona à zambumba e ao triângulo.
Em entrevista ao programa “Proposta” (1972), da TV Cultura, Luiz Gonzaga falou para o filho Gonzaguinha sobre a invenção do conhecido trio pé de serra. O primeiro passo foi incluir a zabumba para fazer a marcação do ritmo.
“Eu vinha cantando sozinho [só com a sanfona], mas eu precisava de um ritmo. Porque a música nordestina precisava de couro, um negócio para bater. Então, primeiramente, eu ‘criei’ [introduzi] a zambumba, baseado nas bandas de couro que a gente tem lá no Sertão, que a gente chama de ‘esquenta muié’. Quando moleque eu já havia tocado zabumba”, explica Gonzagão.
A mistura deu certo, mas, ainda assim, Luiz Gonzaga sentia falta de algo. A solução veio do improvável, de um menino que tocava triângulo para vender cavaco chinês, um tipo de biscoito doce.
“Só com a zabumba eu fiquei com a asa quebrada, eu precisava de um instrumento bastante vibrante e agudo para ‘brigar’ com a zabumba. Até que eu vi no Recife passar um menino vendendo cavaco chinês, tocando ‘tinguilin’, como ele chamava. Ele fazia aquilo com uma certa cadência. Aí eu descobri que tinha achado o marido da zabumba”.
❤️O coração do forró
Músico Minhocão diz que trio pé de serra é o coração do forró
Reprodução/Arquivo Pessoal
A união rende até hoje e artistas bebem da fonte de Luiz Gonzaga para manter viva a tradição nordestina. Um deles é o triangulista Antônio Oliveira da Silva, o Minhocão. Para ele, o trio pé de serra é o coração do forró.
“Ele é o incentivo de todos os movimentos. Os três [instrumentos] deram o pontapé inicial, através do mestre Luiz Gonzaga, do Jackson do Pandeiro e de tantos outros. O ritmo foi evoluindo. Não tem como se modernizar muito, porque um trio é um trio, pela quantidade de instrumento”, contou Minhocão.
Minhocão disse também que a junção continua inspirando os novos artistas. “Através dos novos nomes, cada um com seu estilo, ajuda a inspirar e a divulgar o forró. Podem mudar do jeito do que for, mas as letras, você ver os artistas de antigamente cantando e tocando, é bonito demais. Fica um cozinhado gostoso que todo mundo aprecia e até lambe os beiços”, brincou.
O sanfoneiro Sebastião José Ferreira Maximíno, o Xameguinho, também foi tocado pelo ritmo. Hoje, com 62 anos, ele é um das referências do forró em Alagoas, contando mais de 50 anos de carreira. O sanfoneiro começou a tocar aos 12 anos, quando o pai conseguiu comprar um rádio para ele ouvir as músicas de artistas como Luiz Gonzaga, Trio Nordestino e Jackson do Pandeiro.
“Eu já tinha uns 12 anos quando ele comprou uma outra sanfoninha, e eu já conseguia fazer algo parecido com aquilo que eu ouvia. No outro dia ele saiu pelo povoado dizendo que eu sabia tocar. Quando foi à noite encheu de gente lá em casa para me ver tocar. Eu me escondi dentro das bananeiras, porque eu não sabia”, contou o músico.
Consolidado no meio artístico regional, Xameguinho reconheceu a importância do trio pé de serra para o forró, mas fez alertas para a falta de valorização.
“Quem toca o forró mesmo de trio, é confundido com pessoas que não sabem tocar. Hoje todo mundo usa [a zabumba e o triângulo] porque Luiz Gonzaga mostrou que dava certo. Todo mundo copia. O forró mudou muito. O dito forró eletrônico, como é chamado, eu acho que perdeu um pouco a identidade”, revelou o sanfoneiro.
Músico Xameguinho tem 50 anos de carreira
Reprodução/Redes Sociais
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