Ouvir a matéria
Objetivo da competição era que robôs vestissem uma camisa em um manequim real. Equipe campineira conseguiu vestir um braço e o pescoço do modelo. Unicamp vence concurso com robô capaz de vestir manequim que simula limitação motora
Uma equipe de pesquisadores do Advanced Robotics Laboratory (AdRoLab) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) conquistou o 1º lugar no PhyRC Challenge, uma disputa internacional de robótica assistiva organizada pelo EmPRISE Lab, laboratório da Universidade Cornell, nos Estados Unidos.
🔎 Robótica assistiva é a área que usa robôs para auxiliar pessoas com algum tipo de limitação em tarefas rotineiras.
O objetivo da competição era que os robôs vestissem uma camisa em um manequim real. O robô da equipe de Campinas (SP) conseguiu vestir um braço e o pescoço do modelo. Veja no vídeo acima.
📲 Siga o g1 Campinas no Instagram
🏆 Além de ser a primeira vez que uma equipe da universidade campineira concorre ao prêmio, entre os participantes, o grupo era a único representante de um país do Sul Global. Universidades como as de Stanford, de Yale e de Cambridge também participaram da competição.
O g1 conversou com Maria Fernanda Paulino Gomes e César Bastos da Silva, membros da equipe vencedora. Os pesquisadores revelam que se inscreveram sem muita expectativa, e ressaltam que a “ciência no Brasil é capaz”.
“Além do sentimento de vencer, foi mais uma visão de ver o que a ciência no Brasil é capaz. Achávamos que as outras equipes tinham maior capacidade, por ter maior acesso aos materiais e a maiores financiamentos, mas no fim o problema final para todos era o mesmo. Dessa forma, sinto orgulho tanto da ciência brasileira e, principalmente, do que conseguimos criar”, diz César Bastos, estudante de doutorado.
Também fizeram parte da equipe vencedora Elton Cardoso do Nascimento, Ervin Bolivar Huayhua, Esther Luna Colombini e Leonardo Rocha Olivi (Universidade Federal de Juiz de Fora).
Equipe campineira era a única representante de um país do Sul Global na competição.
Arquivo Pessoal
A competição
➡️ Disputado por 56 universidades de 17 países, a competição teve início em agosto de 2024 e teve duas etapas:
A primeira consistiu em uma simulação virtual do processo de vestir um jaleco em um manequim usando apenas um manipulador robótico.
Já a segunda propôs o desafio de vestir uma camisa em um manequim real durante a IEEE – International Conference on Robotics and Automation 2025, evento internacional na área de robótica, realizado em maio deste ano nos Estados Unidos.
Na primeira fase, a equipe da Unicamp explorou técnicas atuais de aprendizado de máquina (mais conhecido como “machine learning”), sem sucesso. A solução foi apostar em uma proposta híbrida, mesclando a robótica moderna baseada em inteligência artificial (IA) e a metodologia robótica anterior, baseada em modelos matemáticos, por meio do Modelo de Mistura Gaussiana (MMG).
A diferença está no treinamento do robô para executar a tarefa. Enquanto a IA exige um grande volume de dados, bastaram cinco demonstrações para o robô ser capaz de realizar a ação por meio do MMG.
“Rodamos um algoritmo que vai lendo a posição do manipulador enquanto literalmente pegamos a camisa e fazemos o manipulador ir vestindo tudo. Jogamos essas demonstrações no MMG, que modela esses dados”, explicou Maria Fernanda, mestranda que teve a ideia de aplicar a técnica.
Na prática, funciona assim: no momento de vestir a camisa, o modelo analisa a posição do robô e usa probabilidade para determinar qual o caminho com maior chance de acerto, usando dados de todas as trajetórias aprendidas.
A solução foi o que garantiu a maior pontuação para a equipe brasileira, que, durante a competição, conseguiu vestir um braço e a cabeça do manequim.
Preparo e desafios
Nos treinos, para simular as condições do concurso, a equipe usou um manequim adaptado de um modelo para lojas de roupas.
César explica que a equipe poderia levar o próprio robô, mas decidiu usar o que estaria disponível no local da competição por conta de custos de seguro e processos burocráticos na universidade.
“Levamos algumas câmeras para poder aplicar alguns algoritmos de visão computacional para detecção do esqueleto do manequim, a localização de ombros, pulsos, cotovelos, rostos, mãos, etc.”, conta César.
No dia da competição, a equipe estava entre os últimos participantes e pôde ver os trabalhos dos outros competidores. “Percebemos que os mesmos problemas que enfrentávamos, as outras equipes tinham”, diz.
“As outras equipes tinham o intuito de vestir inicialmente uma manga e depois estavam testando como pegar novamente a camisa, o que é um grande desafio. Já a nossa escolha, de segurar pela gola, entender o comportamento da camisa e usá-la apoiada ao braço ‘pra’ colocar na cabeça, foi um diferencial”, explica César.
Os pós-graduandos e membros da equipe vencedora, Maria Fernanda Paulino Gomes e César Bastos da Silva.
Unicamp
Emoção da conquista
Para Maria Fernanda, o esforço e o tempo dedicados valeram a pena. “O sentimento é de muita emoção por ver que todo esforço valeu a pena”, conta.
“E mais do que isso, é mostrar que mesmo com pouco investimento, é possível sim fazer uma pesquisa de relevância no Brasil”, afirma a pesquisadora.
Ela também reforça a importância do trabalho realizado em equipe. “Eu sempre digo que nenhum trabalho é feito sozinho, então [a conquista] ressalta a importância de ter uma boa parceria para fazer pesquisa”, avalia.
*Estagiária sob supervisão de Bárbara Camilotti.
VÍDEOS: Saiba tudo sobre Campinas e região
Veja mais notícias da região no g1 Campinas.
